terça-feira, 21 de setembro de 2010

3. What the hell is going on?

- Eu não vou mesmo. – Brooke pegou o sutiã e o colocou, o mesmo fez com a blusa e a jaqueta. – Aliás, eu vou dar uma volta. E não me digam o que eu posso ou não fazer, não sou criança. – Ela pegou a varinha e colocou na bota, o celular e o número dele anotado em um papel, colocou no bolso da jaqueta e saiu do quarto, batendo a porta com força.

Draco e Becky se entreolharam. – Sabe... às vezes eu acho que você agarra mais a minha irmã do que a mim. – Sentou-se no colo de Draco, exatamente como a gêmea estava, estava com ciúmes sim, o que era raro entre as irmãs.

- Você sabe que não, Becky. Eu amo você. – Ele a beijou com intensidade, pressionou seus lábios nos dela e afastou devagar. – Agora temos negócios a tratar, depois eu te recompenso. – Deu uma leve mordida no lábio inferior da namorada que se afastou e foi se vestir. – Parece que Victor tem uma informação importante pra gente. Acho que ele conseguiu algo.

- Eu, realmente, espero que sim, Draco. Essa coisa de ficar procurando um recipiente ideal já está me dando nos nervos. É como procurar uma agulha no palheiro.

Eles saíram do hotel e foram para alguma cafeteria por perto. Sentaram-se e, logo em seguida, Victor chegou.

Ele era um homem bonito, elegante e charmoso. Seus cabelos eram pretos e ondulados, um pouco comprido, e seus olhos bem verdes. Era alto, forte e musculoso. Becky acabara de se lembrar dele nos tempos de Hogwarts, com Draco. Por um tempo foi namorado de Brooke, mas as personalidades dos dois não dariam certo nunca. B. era divertida, conquistadora e nunca foi de um homem só. Victor era charmoso, mas era muito ciumento e possessivo. Será que a irmã lembrava-se dele?

- Ora, ora. Rebecca Crawford, quanto tempo. Você continua maravilhosa e deslumbrante. – Ele pegou a mão de Rebecca e levou aos lábios. Um perfeito cavalheiro, como Brooke pode deixá-lo? – Draco. É um prazer revê-lo. – Apertou a mão do loiro.

- Certo Victor, vamos ao que interessa.

- Muito bem. Vocês pediram para que eu procurasse sobre o cara da foto, certo? A boa notícia é que ele é realmente John Winchester, o mesmo que é citado no diário algumas outras vezes. A má notícia é que ele morreu já fazem alguns anos. Mas, eu já descobri que ele tem dois filhos que seguem o mesmo ramo. Em mais alguns dias e eu já terei o nome e o paradeiro deles.

- Espero que eles possam ser úteis.

- Acalme-se, Becky, a melhor parte eu ainda não contei. Tem um demônio, que conseguiu chegar até Ele, e nos trouxe uma mensagem. Parece que ele vai nos dar detalhes de como prosseguir e quem é a pessoa que Ele quer, para o recipiente. – Becky se agitou na cadeira.

- Um, um demônio? Tipo, de verdade mesmo? – ela olhou um pouco assustada para Draco.

- Tudo bem, não se preocupem, ele pediu para eu ir sozinho encontrá-lo. Aliás, assim que sair daqui irei me encontrar com ele.

- Uhm, ok. Mantenha-nos informados Victor.

- Com toda certeza, Draco.

***

Victor entrou no Detroit Café, um lugar normal, com muitos trouxas. Pegou a mesa que o demônio havia indicado, ao fundo, perto do banheiro. Pediu um café e olhou a sua volta. Não demorou muito até que um homem misterioso entrasse. A luz acertou diretamente seus olhos, reflexo do sol talvez, e Victor percebeu que ficaram negros, totalmente pretos. Ninguém ali percebeu, com a exceção, claro, de um homem que o encarava do balcão. O demônio entrou e foi se sentar com Victor.

O castanho, que observava de longe, se virou para o balcão, pegou o celular, encontrou o contato “Dean”, olhou um tempo como se decidisse o que fazer e guardou o telefone no bolso, sem discar. Levantou, indo em direção ao banheiro, passando por eles que cochichavam, apenas conseguiu ouvir algo como “Você esteve com ele? Como chegou lá? Como voltou?”.

Algum tempo depois saiu novamente e esbarrou no demônio, que se servia de café. Como Previa, ele acabou derrubando o líquido quente no próprio colo.

- Hey cara, desculpe, eu não tive a intenção. – Disse com um exagerado tom de sinceridade. O demônio se levantou irritado, queria quebrar o pescoço dele, mas precisava manter a aparência agora. – Venha aqui, eu dou um jeito nisso. – Sam o puxou para o banheiro, Victor continuou sentado.

Ao entrar, Sam não pensou duas vezes e deu um soco na cara do demônio que cambaleou e foi pra cima dele. – Winchester! – Ele arfou, talvez reconhecendo o rapaz um pouco tarde demais. Sam o puxou pelos cabelos e o enfiou dentro do box, onde um terço estava dentro do vaso sanitária. Ele havia benzido a água. Afundou a cabeça do demônio na água e ele berrou, queimando-se com a água.

- Maldito Winchester! – Urrou, mas antes que pudesse continuar, Sam o afundou novamente.

- Não sei o que está fazendo aqui, mas vou te mandar de volta pro seu mundo. – Empurrou o demônio para trás, ele vacilou e caiu sentado, levantando-se em seguida, os olhos completamente negros encarava o rosto de Sam com fúria e então ele avançou, mas algo o impediu de conseguir chegar até o castanho. – Mas não antes sem me falar o que está fazendo aqui. – Sam apontou com a cabeça para o teto, onde desenhara uma armadilha.

- Negócios, Winchester. – Ele respondeu revirando os olhos. – Tenho negócios a tratar.

- E que negócios são esses? – Sam pegou um balde de dentro de um dos boxes e encheu de água, apanhou o terço dentro do vaso sanitário e jogou dentro, manteve a mão submersa e começou a recitar algumas palavras em larim.

- Acha que isso vai me fazer abrir a boca, Winchester? Nem em sonho...

- Veremos... – Sam jogou um pouco de água no demônio e ele berrou, chamando a atenção de Victor que saiu de sua mesa e entrou no banheiro.

- É uma armadilha, saia daqui! - Sam se virou para a porta, dando de cara com o rapaz, jogou um pouco de água nele, mas nada aconteceu, afinal Victor não estava possuído.

- Isso é um possível pacto? – Perguntou, fincando o cenho. Victor empunhou a varinha e apontou para Sam. – E que pedaço de madeira gozado é esse?

- Desfaça esta merda! – Disse o demônio apontando para o selo sobre sua cabeça. Victor desviou a varinha para o símbolo e girou-a um pouco, mas Sam avançou sobre ele, fazendo lampejo desviar do alvo.

Victor caiu, batendo a cabeça no chão com o forte impacto sofrido e Sam deu três socos em sua face, fazendo-o desmaiar.

- Vamos conversar... – Voltou-se ao demônio. – Eu não sabia que havia uma encruzilhada aqui perto e nem que pessoas tinham madeiras especiais para desfazer armadilhas para demônios, essa deve ser uma macumba muito boa, devo confessar. – O demônio riu, parecendo divertido. – Mas qual o real sentido de você estar aqui?

- Depois de tudo o que causaram com Lúcifer, acho que vocês dois deveriam deixar os demônios em paz e cuidar dos seus fantasminhas, porque não estamos para amizades, Winchester e fique ciente de que não vão estragar nossos planos novamente, tudo vai correr como planejado.

- E qual é o plano.

- Não posso falar, ordens.

- Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica... Ergo...

- NÃO! – Ele berrou. – ACORDE SEU FILHO DE UMA PUTA DESGRAÇADA. – Falava com Victor.

- Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt... Ab insidis diaboli, libera nos, domine. – Victor pareceu vacilar e acordar, meio tonto. O demônio se contorcia conforme Sam dizia as palavras, sabia que não conseguiria arrancar nada do demônio e não estava equipado para tentar torturá-lo, tampouco poderia deixá-lo livre por aí. – Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos. Ut inimicos sanctae ecclesiae humiliare digneris, to rogamus audi...

- PRESTE ATENÇÃO! – Urrou novamente e Victor o olhou.

- Dominicos sanctae ecclesiae, terogamus audi nos, terribilis deus do sanctuario suo deus israhel. Lpse tribuite virtutem et fortitudinem plebi suae...

Ele continuava se contorcendo. – Diga a eles que ele quer o Winchester, agora suma!

- benedictus deus, gloria patri...

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – A fumaça preta saiu da boca do homem, voltando direto para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

Sam se voltou para Victor, que encarava tudo com certo receio. – Winchester... – Ele repetiu e apertou os dedos em volta da varinha, desaparecendo dali. Olhou em volta, sem saber o que tinha acontecido com o homem, como se estivesse procurando por ele em algum lugar dali. Saiu do banheiro meio desnorteado, deixou uma nota de dez no balcão e saiu.

Entrou no Impala, ainda muito confuso, sem saber o que o demônio quis dizer com “ele quer o Winchester...” ou como o homem havia desaparecido, completamente do nada, diante de seus olhos. Encarou por alguns minutos o painel do carro, ele não era um demônio, como seria possível? Tirou o celular do bolso e discou para o irmão, ligou o carro e dirigiu para o bar onde o deixou.

***

- Ok Sammy, não vou demorar... Tudo bem, te encontro aí. – Dean desligou o telefone e olhou a sua volta. A Starbucks estava lotada e ele na fila esperando sua vez.

A porta se abriu indicando que algum cliente acabara de entrar. Ele automaticamente olhou para ver quem era e de imediato reconheceu aqueles olhos azuis que ele sonhara essa noite. A mulher tomou ciência de sua presença e sorriu, indo em sua direção. Ele retribuiu o sorriso. Hoje ela usava um vestido cinza, bandage, curto, o que evidenciava suas curvas e deixa a mostra suas belas pernas. Ela o cumprimentou.

- Dean.

- Ash... Quero dizer, Brooke. – Ela riu. – Desculpe por ontem, era algo mesmo importante. Hm, sobre trabalho, entende.

- Trabalho? Em que exatamente você trabalha? – Arqueou a sobrancelha, parecendo curiosa.

- Bom, é um antigo negócio de família.

- Entendo. Mas não pense que vai se livrar assim tão fácil, Dean. Ainda me deve uma saída.

- Ow, gata, eu sempre cumpro com a minha palavra. – Os dois riram e se encararam. – Então, o que faz aqui agora?

- A mesma coisa que você está fazendo, comprando um café. E, por falar nisso, é a nossa vez. Eu quero um capuccino com creme, por favor.

Dean fez o pedido dele e foram se sentar em uma das mesinhas do lado de fora. O dia não estava ensolarado, mas sim meio nublado.

- Não, você sabe, eu quis dizer, na América. – B. deu um sorriso meio constrangido.

- Bom, pra ser sincera, nem eu sei direito. É uma longa história.

- Eu adoraria ouvir. – Ele sorriu levando o copo aos lábios e ela soltou um riso fungado.

- Minha irmã tem um namorado, desde a época de Hog... High School. Eis que ontem mesmo ele chegou em casa dizendo que precisava viajar para a América por uns tempos, resolver alguns negócios da empresa dele, que, inclusive, eu e minha irmã somos sócias, mas na verdade é ele quem faz tudo. É claro que a Rebecca viria correndo com ele. Digo, eu não a culpo, ela o ama. Então eu tive de vir junto.

- Parece-me que você não queria vir. Então por que veio?

- Ela, Rebecca, é a minha única família, entende? Não tenho pais, tios, avós, nem nada. – Foi a vez dela de levar o copo aos lábios, dando uma leve pausa na conversa. – Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos e minha mãe e meu padrasto quando eu tinha quinze. Desde então somos só minha irmã, meu cunhado e eu. Embora sejamos muito diferentes, eu a amo demais. Costumávamos contar tudo uma pra outra, mas recentemente ela anda muito estranha. Sabe, eu fico preocupada. Quando minha mãe morreu, foi muito difícil para ela, passou por uma fase terrível, mas depois de um tempo ela melhorou e agora parece que está voltando a ter essa recaída. Ela e Draco vivem de segredos, sempre estressada e tensa. E pra piorar, começaram a me tratar como uma criança, uma irresponsável e inconseqüente, como se eu não entendesse absolutamente nada, ou como se tivesse voltado a ter cinco anos de idade, alguém que precise de proteção. Quero dizer, eu nunca estive nem aí pra nada. Gosto de curtir a minha vida, mas tenho meus limites. – Dean ouvia tudo com atenção. – Talvez eu seja egoísta, mas não sei o que será de mim, sozinha, quando eles se casarem. – Tomou outro gole do capuccino e encarou Dean, que estava com um leve risinho no rosto agora. – Desculpe-me, eu realmente não sou de me abrir como acabo de fazer, eu não falo isso para as pessoas que eu mal conheço, sem ofensas. – Ele não agüentou e soltou um riso, ela ficou um pouco ofendida, mas disfarçou. – O que foi?

- Nada, não se ofenda. É só que... Eu reconheço essa história.

- Como assim?

- A minha. Também não tenho pais, tios, avós, etc. Tenho apenas um irmão mais novo, que você conheceu ontem no bar. Quando minha mãe morreu, eu também tinha cinco anos, mas Sammy era só um bebê de seis meses. Mas meu pai não casou de novo e, digamos que, ele se dedicou ainda mais ao trabalho e por conta disso viajava sempre. Eu ficava responsável pelo meu irmão e pela casa. Ele morreu há uns seis ou sete anos, desde então meu irmão também é a única coisa que me resta. Eu sei como é, como se sente.

Os dois tomaram goles do café e se encararam por alguns segundos, sentindo compaixão um pelo outro, afinal, ambos perderam os pais e se sentiam, de alguma forma, responsáveis pelo irmão. Afinal quando a mãe de B. morreu, Becky ficou revoltada, apesar da briga que tiveram ela era muito chegada à mãe. Ficou absolutamente possessa com o padrasto, tanto que cometeu o pior erro de sua vida dela e o pior, ou talvez nem tanto assim, é que não se arrependia. E agora B. estava muito preocupada com o rumo que as coisas vinham tomando.

B. soltou um riso e olhou para o seu copo. – O que? – Dean perguntou também sorrindo.

- Nada, é só... incomum. Quero dizer, nos conhecemos ontem, eu estava louca por você, e agora estou aqui, falando da minha vida pessoal. – Ele deu um sorriso torto e malicioso.

- Estava é? – Ela retribuiu o sorriso.

- É, eu estava e pelo jeito que você não ofereceu nenhuma resistência, só significa que eu também te deixei louco.

- Com certeza baby. – Ele piscou e virou a cabeça, rencostando-se na cadeira. Ela mal o conhecia e já adorava aquele jeitinho. Foi quando o celular dele tocou novamente. – Sammy, eu já estou indo ok? – Desligou, olhando pra ela com uma cara de “me desculpe mais uma vez”.

- Está tudo bem, eu também tenho coisas a fazer hoje. Sabe como é... Ver a casa nova, comprar móveis, decorar, levar as coisas do hotel. Enfim, coisas de menininha. – Ela se levantou, apanhando a bolsa.

- Pra onde vai? Quer uma carona?

- Se não for te incomodar...

Dean a levou até a casa recém adquirida. Ela agradeceu e saiu do carro.

- Eu te ligo hoje a noite. – Ele disse, voltando a dar a partida no carro. Ela concordou e acenou para ele.

Brooke deu uma volta na casa por fora, tudo parecia estar em ordem. Logo o corretor chegou e mostrou-lhe por dentro. Era enorme, ela não teria muito trabalho a fazer, em questão de cores e papéis de parede os antigos donos tiveram bom gosto. Depois de fechar o negócio definitivamente, o corretor foi embora e ela estava sozinha na sala. Tirou algumas fotos dos cômodos com o celular (que aprendera a usar depois de tanto mexer), respirou fundo e aparatou.

***

- Pode colocar ali. Isso, obrigada. – Brooke esperou o moço colocar a cristaleira no local indicado, acompanhou-o até a porta e voltou, esparramando-se no sofá recém-adquirido.

Tinha sido um dia bem cansativo e ela havia feito um ótimo trabalho. Pelo menos os móveis essenciais tinham sido devidamente escolhidos e comprados. Enquanto esteve nas lojas, as paredes fora pintadas e no dia seguinte era só colocar tudo no seu devido lugar e correr atrás dos detalhes. Becky não aparecera nem telefonara, embora ela não demonstrasse, ficou muito chateada e se sentiu extremamente sozinha, como se ninguém precisasse dela. Logo ficou irritada, se eles pensavam que iriam tocá-la para fora de suas vidas, estavam tremendamente enganados. Decidiu que voltaria para o hotel, tomar um banho e dar uma saída pra espairecer.

Trancou a casa e aparatou em uma rua escura e deserta, próxima ao hotel. Começou a caminhar em direção a rua movimentada duas quadras à frente, quando percebeu um movimento as suas costas. Automaticamente se virou para trás e surpreendeu-se a não ver nada. Voltou a andar apressadamente em direção à luz. Era só o que faltava ser assaltada agora. Outro movimento e ela voltou a se virar, segurando a varinha com força dentro do casaco.

- Quem está ai? – Gritou para as sombras. Algo se mexeu à sua esquerda e ela se virou. Havia apenas o contorno de um homem que ainda estava na escuridão e não dava pra reconhecer nada, via apenas sua silhueta.

- Rebecca?

- Quem é você?

- Um amigo do Victor. Você é a Rebecca? – B. analisou aquele contorno por alguns instantes, ainda tensa.

- Não! Sou irmã dela. – Concluiu por fim. – O que você quer com ela?

O homem se aproximou, ficando na luz. Tinha os cabelos pretos na altura dos ombros e os olhos cor de mel. Vestia uma jaqueta de couro velha e uma camisa preta que marcava seu abdômen definido. Tinha um sorriso maroto e algo diferente no olhar. B. não relaxou.

- Relaxe, Brooke, não irei te fazer mal. Eu só quero falar com Victor. Pensei que talvez você pudesse avisá-lo. – Ele continuou se aproximando e, de repente, estavam tão próximos que ela conseguia sentir a respiração dele em seu rosto. Ele a olhou de cima a baixo e deu outro sorriso maldoso, então a beijou, quase que violentamente, como se quisesse engoli-la.

Ela quase perdeu o equilíbrio se não fosse pelos braços fortes que a envolveram. Ele segurava firme em sua cintura enquanto o outro braço subia em direção a sua nuca, entrelaçando os dedos nos cabelos dela. B. percebeu que ele tinha um cheiro forte, diferente, só não estava se lembrando de com o que se parecia.

Afastou-se lentamente dela, um sorriso ainda malicioso nos lábios, a luz bateu em seus olhos e eles, de repente, ficaram totalmente negros. Ela deu um passo para trás no impulso, percebendo o que estava acontecendo.

- Enxofre, então é isso... Que nojo! – Puxou a varinha de dentro do casaco e apontou pra ele, o outro braço correu aos lábios como se pudesse limpar o beijo que acabara de receber.

- Não seja estúpida garota. Você não vai querer fazer isso. – Ele tombou a cabeça pro lado, divertindo-se com o espanto dela.

Ela ameaçou algum movimento com a varinha e ele estendeu sua mão para frente, lançando-a contra a parede da ruela. Brooke sentiu uma dor aguda na cabeça e algo escorrendo por seus cabelos. “Ótimo, estou sangrando, maravilha!” pensou ironicamente. Sua varinha tinha caído de sua mão com o baque. Ela levantou e se sentiu um pouco tonta, tentando procurar cegamente a varinha.

- Eu não vou te machucar, já disse. Apenas não tente nenhuma outra gracinha, é claro. Agora vá, chame o Victor e o traga até aqui. – Ele cruzou os braços. Ela pegou a varinha enquanto a outra se segurava para não cair. Levantou e colocou a mão da varinha na cabeça, onde havia feito um profundo corte que sangrava. Ela virou, apontando a varinha para ele e muito mais rápido do que ele pudesse esperar de alguém cambaleando, ela o estuporou. O demônio caiu inconsciente por alguns instantes, apenas o tempo dela conjurar a “Armadilha do Diabo” no chão, bem abaixo dele.

- Ora, ora. Será que eu sou assim tão imbecil ou tão garotinha frágil e indefesa que faria tudo que um demônio filho da puta como você dissesse? Surpreso? Deprimido? Quer colinho de mamãe?

Ele gargalhou. – Pois é, confesso que não esperava isso. Muito inteligente Brooke, puxou mesmo o seu pai.

- O que o meu pai tem a ver com isso? Aliás, como sabe meu nome? Como sabe quem eu sou?

- Muitas perguntas, Brooke. Primeiro, seu pai não tem nada a ver com isso, embora aquele desgraçado tenha tido o que merecia, morreu nas mãos da única pessoa que o amou de verdade. Irônico não é? A questão é que eu o conheci, e você se parece muito com ele, nada de garotinha frágil e indefesa. Segundo e terceiro que eu sei de tudo sobre você e sua “família”. Na verdade, atualmente, todos os demônios sabem. Se prepare doçura, eu não sou nem um pingo no oceano do que você terá de enfrentar daqui pra frente. É bom que você escolha o lado certo, chame o Victor e me solte. – Brooke estava muito confusa com tudo aquilo, não estava entendendo nada do que ele queria dizer, mas não estava nenhum pouco disposta a atender seu pedido.

- Desculpe, doçura, mas como deve saber, não sou uma fada madrinha, sou uma bruxa e bruxas não atendem a desejos, principalmente de demônios imundos e gostosos, como você. – Passara muito tempo lendo e estudando o diário de seu pai e aquelas palavras, decididamente, estavam gravadas em sua cabeça . – Mande um Alô a minha mãe e meu padrasto no inferno. – Mordeu os lábios como se hesitasse em começar, não era algo do qual realmente se orgulhava em saber. – Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas... – conforme ela falava, o demônio começava a tremer e se contorcer - Da locum Christo, in quo nihil invenisti de operibus tuis...

Ele tremia descontroladamente, gritando coisas como: “Ele retornará...” e “você e aqueles caçadores imundos irão sofrer...”, até que ele deu um último grito, soltando pela boca uma “fumaça” preta. Correu até o círculo desenhado no chão. O homem que servia como recipiente do demônio estava desmaiado no chão, ela tentou acordá-lo, mas ele não respondia. O telefone dela tocou.

- Alô? – Percebeu agora que sua voz estava vacilante. Era o segundo exorcismo que praticara, sendo que prometeu para si mesma, depois do primeiro, que largaria essa história de caçar, mas essas coisas simplesmente apareciam em sua vida.

- B., você está bem? Parece um pouco assustada.

- Não, eu... é que... – Respirou profundamente e levou a mão a cabeça, sentia uma dor aguda no local do corte. – eu fui assaltada, o bandido me empurrou e bati a cabeça, estou um pouco tonta. Dean, se não for pedir demais, você pode me buscar? Estou aqui perto do Hilton, não quero chegar ao hotel agora e preocupar minha irmã. Acho que preciso de alguns pontos na cabeça antes de qualquer coisa. – Ela esperou a resposta dele e desligou o telefone.
Tirou o casaco e o fez sumir com mágica. Encostou o corpo do moço na parede, logo ele acordaria. Aparatou mais perto da rua movimentada. Escondeu a varinha na liga que usava na perna direita, onde normalmente colocava quando estava de vestido, levava o celular na mão mesmo. Assim que ninguém estava olhando ela começou a andar em direção ao local combinado.

Era mentira, não estava com medo de preocupar a irmã, na realidade Brooke estava preocupada com o tipo de merda que irmã estava metida, seria fácil pra ela voltar pra casa e enfeitiçar o corte, colocar alguma poção ou coisa do gênero, mas precisava refrescar a cabeça e Dean havia ligado em um excelente momento. O demônio era “amigo” de Victor e perguntou por Rebecca. Becky e Draco estavam muito estranhos ultimamente e tendo muitas reuniões com Victor, talvez estes fatos estivessem ligados, mas ainda não sabia explicar de que maneira. Algo estava muito estranho por ali. Talvez Victor tivesse feito algum tipo de pacto e Rebecca estava tentando ajudar, mas ainda assim nada fazia sentido e, o pior, por que ninguém contara nada a ela?

Um carro estacionou na frente de B. e a tirou de seus pensamentos. Era Dean, com cara de super preocupação. Ele saiu do carro e deu a volta, encarando a morena nos olhos. – Você está bem? – Abriu a porta do Impala pra ela. Ela entrou, ele deu a volta e tomou o volante novamente.

- Você parece incrivelmente mal. Quero dizer, seu cabelo está uma caca e você parece muito pálida, te fizeram algum mal?

- Nada além de ter a cabeça rachada ao meio e perdido sei lá quantos litros de sangue.

- Esqueceu de ter caído no lixo né, você está fedendo B. – Dean sorriu, aquele sorriso de criança-fazendo-arte, ele parecia mais aliviado.

- HaHa, engraçadinho. Sim, eu caí no lixo. Foi em uma dessas ruelas que você vê em filme. A idiota resolveu pegar um atalho, ao invés de simplesmente seguir o caminho habitual. Lembre de nunca, NUNCA mais pegar atalhos escuros em toda a minha vida. – Ela olhou para ele, que a encarava achando certa graça na situação. Ela abaixou o olhar e riu. Sorte que mentia bem. – Desculpe, não quero descontar minha frustração em você. Eu só pedi para que você viesse porque a Rebecca ia ficar louca. Ia querer dar a queixa imediatamente, fazer um barraco na delegacia, no hospital e não foi nada grtave, ele só levou o casaco e a minha bolsa.

- Ah! E a pergunta que não quer calar, como você ficou com o celular?

- Ah, sim. Estava no bolso do casado e deve ter caído quando eu o tirei e ele não percebeu.

- Você se lembra dele? Saberia descrevê-lo?

- Não. Estava escuro, pouca luz, não dava pra ver direito. Ele tinha algo na cabeça eu acho.

- Ok, está bem, não force muito agora. Você bateu a cabeça com força, talvez mais tarde se lembre melhor. – Ele estacionou no hospital e a ajudou. Ela estava mesmo um pouco tonta e sentia como se fosse vomitar. Mas tinha certeza de que era pelo fato de ter exorcizado alguém, não por ter batido com a cabeça.

Dean ficou junto dela enquanto limpavam o ferimento e davam alguns pontos. O telefone dele tocou, era o Sam.

Assim que terminaram, Dean insistia em levá-la a delegacia.

- Dar queixa de que, Dean? Um sobretudo Dolce & Gabbana e uma bolsa Victor Hugo?

- E seus documentos? Dinheiro, sei lá?

- É só tirar segunda via, quanto ao dinheiro, já era mesmo. E os cartões, é só ligar no banco e cancelar. – Ainda bem que ela conseguia ler a mente dele, pois não estava entendendo nada do que estava falando.

Ele, por fim, acabou concordando e a deixou na porta do hotel. Estacionou o carro perto de onde a havia pegado e se dirigiu a ruela que Sam havia mencionado. Sam estava ali, andando em círculos, impaciente, até que avistou Dean.

- Que demora cara! Você precisa ver o que encontrei aqui.



sábado, 31 de julho de 2010

2. Nightmare

O sangue, ainda quente, enchia o cálice de prata envolto pelos longos e finos dedos de um homem de cabelos negros, longos e compridos até os ombros, estes cobertos pela capa que mantinha seu rosto oculto. Ele acabara de aparecer próximo a um cemitério e andava apressadamente, como se algo importante o esperasse. Sua capa balançava violentamente contra o vento da madrugada. E então tudo ficou preto...

- Ista nocte sabbati invoco potestates tenebrarum me – Era possível ouvir a voz, mas nada era visto. – deducere et laborare pro favore mea, ut devehant me ad lucem et – A língua também era desconhecida, diferente, nada com o que já tivera contato antes. – potestates paranormales quod necesse est pro faciendo mea miracula...

Tudo ficou muito quieto, e os grandes e confusos olhos azuis encaram o teto escuro do quarto. Levou a mão ao peito que pulsava rapidamente, ofegante, com a sensação de que passara a noite inteira correndo uma maratona, mas nem sequer saíra de seus aposentos. Rolou para o lado, enrolando-se no lençol, na tentativa de pegar no sono novamente, mas não conseguiu. Então jogou as pernas para fora da cama e levantou.

Caminhou sem pressa para o banheiro e encarou-se no espelho. Estava com uma aparência abatida, pálida. Colocou a língua pra fora, nada anormal. – Mas que porra foi essa, Brooke? – Encheu as mãos de água e lavou o rosto.

Voltou para o quarto e se sentou na beira da cama, encarando o escuro a sua volta. Tentava entender o sonho que acabara de ter, mas nada parecia fazer sentido agora. Virou a cabeça e olhou o relógio na cabeceira da cama, marcava três e quarenta da manhã e ela se jogou pra trás.
- Bom dia maninha! – Brooke estava sentada à mesa com uma enorme xícara de café e Becky acabara de se juntar a ela. – Como dormiu?

- Péssima, dormi mal. Parece que um trator passou por cima de mim e, pra ajudar, acordei às três da manhã com a merda de um sonho estranho. – Levou a xícara aos lábios e deu um grande gole, encarando a irmã em seguida. – Você deve ter dormido muito bem, não é? Primeiro transa com Draco no banheiro do restaurante, depois deve ter passado a noite inteira na maior foda!

- Draco não dormiu aqui... – Disse sem olhar B., estava ocupada enfeitiçando a cafeteira para se servir.

- Como assim? – Perguntou curiosa. – Vocês me deixam plantada no restaurante com um cara sem graça e sem um pingo de atrativos, comem-se no banheiro e vem me dizer que ele não dormiu aqui?

- Sim, exatamente isso. Ficamos conversando e arrumando uns assuntos pendentes e ele foi embora por volta das oito da noite, eu estava cansada, tomei um bom banho e fui dormir. Nem preciso dizer que você apagou o dia inteiro, não é?

- Não! – Apanhou uma torrada e encostou-se à cadeira. – Mas o que deu nele?

- Foi arrumar algumas coisas, deixar tudo preparado já que amanhã saímos de Londres.

- Sairão de Londres? Do que está falando, Becky? – Fitou-a com curiosidade, não estava entendendo absolutamente nada.

- O que ouviu, vamos embora de Londres amanhã à tarde. – Respondeu tranquilamente, passando geléia de morango na torrada adocicada que acabara de pegar.

- Vocês enlouqueceram de vez, foi isso? – olhou-a indignada, roubando-lhe a torrada.

- Hey! – Reclamou e apanhou outra rapidamente. – Na verdade não, só achamos que a América pode ser um lugar legal pra se morar... mais especificamente... Detroit!

- Ah, legal, e a Brooke fica largada, sozinha, em Londres, muito legal. – Levantou-se irritada.
- Nada disso, você vem com a gente.

- Nem fodendo que eu saio daqui pra ir pra uma cidade merreca que eu nunca nem sonhei! – Saiu da cozinha e subiu batendo os pés. – Vocês enlouqueceram completamente, Rebecca, que idéia, América... Eu vou ficar aqui, nem que seja sozinha.

- Duvido... – Murmurou para si e deu um sorrisinho, continuando com seu café.

Mais tarde, quando Draco chegou, impecável em seu terno preto, com a camisa e gravata da mesma tonalidade por baixo, os cabelos perfeitamente penteados para trás, sem nenhum fio solto, foi de encontro com Rebecca, sua namorada, que terminava de arrumar as malas.

- Falou com sua irmã? – Perguntou, tomando lugar na poltrona, do outro lado do quarto.

- Sim. Ela ficou possuída da vida e se trancou no quarto desde então. Acho que não vai ser muito fácil convencê-la, mas também não seria difícil, ela não vai ficar aqui sozinha.

- Acho que tenho uma idéia.

Levantou-se e foi ao quarto da cunhada, bateu na porta.

- Esqueça Rebecca, eu não sairei daqui, já disse.

- Sou eu.

Ela estremeceu ao ouvir a voz do louro atrás da porta. – Jogo baixo! – Sussurrou e a abriu, sem deixar que ele entrasse. – Sim?

- Será que eu conseguiria convencê-la se falasse que eu e Rebecca estamos pensando em marcar a data do casamento e queremos mudar um pouco de ares?

- Saia da minha mente, Malfoy! – Urrou.

- B. é algo temporário. Voltaremos o quanto antes. Só preciso resolver uns assuntos e não queria ficar lá sozinho, sem ter alguém que eu conheça. Rebecca disse que iria comigo, mas não podemos deixá-la sozinha aqui.

- E por quê? Eu Sou grandinha pra cuidar de mim. – Afastou-se da porta e sentou-se na cama, encarando o loiro que se encostou no batente de madeira.

- Sabe se cuidar tanto quanto uma criança de cinco anos de idade. E além do mais, o que ficaria fazendo? Vamos para os EUA, deixamos você escolher a decoração da casa, você terá um leque maior de homens e a diversidade deles, conhecerá pessoas novas e interessantes. Qual é, B. Não faça isso com a gente!

Ela bufou, ele estava conseguindo conquistar seu coração. – Malfoy seu cachorro patife, eu juro que se nunca mais voltarmos a Londres eu te mato, pico seu corpo e dou de comer aos porcos, está me entendendo?

- Com total clareza, minha cunhadinha.

- E não seja cínico.

- Certo, arrume suas coisas, partiremos amanhã à tarde.

- Posso, a menos, ter a curiosidade de saber que assuntos são esses que te farão mudar de país?

- Um amigo meu, Victor, pediu a minha ajuda em uns negócios, ele trabalha no Ministério da Magia dos Estados Unidos e... Você sabe como os Malfoy são influentes...

- Ah, sim, claro. Vou arrumar minhas coisas.




Chicago – Illinois

Sam estava parado como se pairasse no ar. Estava dentro de uma casa muito antiga, num corredor, mais especificamente. Ouviu algum barulho, algo como gemidos, vindo de um quarto no fim do corredor, hesitou por alguns instantes, mas foi em frente e atravessou a porta, como se fosse um fantasma e ninguém sequer o olhou, como se, além de tudo, fosse invisível.

Na cama estava um casal transando, a explicação para os gemidos. Sentiu-se um pouco constrangido e tentou não olhar, mas era impossível, seu corpo estava imóvel, como se algo o estivesse controlando e nada podia ser feito, a não ser observar...

O homem na cama parecia enlouquecido de prazer e tesão. Seu membro rijo pulsava entre as carnes quentes e úmidas enquanto suas mãos deslizavam pelas curvas perfeitas de uma loira que, sentada sobre seus quadris, cavalgava enquanto sentia-se quase que em um êxtase inexplicável. Gozaria a qualquer momento, quando seu prazer atingisse o ápice da alucinação. Ergueu a cintura e bombou uma, duas, três vezes e o jato quente e forte atingiu as paredes internas da mulher. Fluídos misturados e sensações compartilhadas. Abraçou o corpo dela e a fez deitar na cama, apertando suas mãos em suas coxas... Pele lisa, macia, aconchegante, apertou de forma que seus dedos deixassem vergões na brancura, os lábios subiram pelo busto e deslizarem pelo pescoço onde chupou e sugou com certa força. Sua mão deslizou agilmente para de baixo do travesseiro de onde retirou um punhal e a língua escorregou pela pele, como se sentisse seu gosto, continuou a bombar conforme as mãos da moça apertavam-lhe a cintura e então um gemido mais intenso anunciou que ela atingira o gozo e, sem pensar, a lâmina do punhal deslizou por sua garganta.

Sam gritou absurdamente alto, como se a voz rasgasse suas cordas vocais, queria matar aquele estranho, mas ainda estava estático. O homem levantou a cabeça e Sam encarou aqueles grandes olhos verdes, os tão conhecidos olhos que costumavam encará-lo desde que era pequenininho...

- Sam... Sammy, acorde. Você está bem? – Dean chacoalhava o irmão que dormia no bando ao seu lado.

- Eu... ah. Dean?! Oh meu Deus, ainda bem, eu estava sonhando. – Ele agora se sentava direito. Esfregou as mãos no rosto e depois puxou os cabelos para trás e encarou o irmão que dirigia. – Onde estamos?

- Há algumas milhas de Chicago. – Anunciou e coçou o pescoço, olhando, em seguida, para Sam, um pouco preocupado. – Você está bem cara? Quero dizer, você começou a gritar feito louco e do nada, eu pensei que estava tendo um acesso ou coisa parecida. Será uma...

- Visão? Não, não acho que seja. – Ele encarou o irmão muito sério. – Pelo menos eu espero, realmente, que não seja. Eu sonhei que você estava transando com alguém e...

- AH SAMMY, Qual é? Voyeur? Você nunca me disse que se excitava com isso. – Dean deu uma enorme gargalhada dando um leve soco no ombro do irmão.

- Cale a boca Dean, eu não queria ver aquilo, mas era como se algo me impedisse. E quando... – Coçou a cabeça, meio constrangido. – ela atingiu o orgasmo, você tirou um punhal debaixo do travesseiro e lhe cortou a garganta e eu reparei que tinha um cálice de prata ao lado da cama.

- É! Isso foi estranho. Mas fique tranqüilo, Sammy. Primeiro porque você nunca irá praticar voyeurismo, não comigo. Segundo que você sabe que eu não faria um pacto, ou uma evocação que exigisse a morte de alguém que não seja eu mesmo.

Sam abriu a boca, parecendo chocado. – Foi tudo muito estranho, você não entende. No começo não parecia ser você. Não se parecia com ninguém que a gente conheça e era como se eu estivesse vendo algo que já aconteceu há muito tempo. Mas quando ele cortou a garganta da mulher e eu gritei, ele levantou a cabeça e, então, era você. Mas você estava diferente, como se estivesse possuído, eu não sei bem.

- Tudo bem Sammy, foi só um pesadelo. Você sabe, pessoas têm pesadelos há todo momento e esse foi só mais um. Vamos parar em Chicago, descansar, acho que isso tudo é estresse da viagem. Nos divertimos um pouco e tudo ficará bem novamente, sem voyeur ou pescoços cortados.

Sam apenas concordou. Era bobagem se preocupar com isso. Como ele mesmo havia dito, parecia uma cena que já acontecera, o que significava que nada poderia fazer nada para impedir. Dean estaria disposto a voltar ao inferno, antes de fazer qualquer coisa parecida com aquilo, antes de arriscar qualquer vida inocente, então, decididamente, não era seu irmão e sim apenas um mau sonho.

Logo estavam em Chicago. Pararam em um motel perto do centro da cidade e Dean foi tomar banho enquanto Sam se sentou na cama ainda um pouco pensativo. Tomou banho logo depois e vestiu seus costumeiros jeans e jaqueta. Estavam famintos, então passaram em um fast-food para se entupirem de x-burguers gordurosos, batatas e refrigerantes. Então Dean teve a excelente idéia de irem para um bar, ali perto mesmo e se divertirem um pouco. Sam ficou meio relutante de início, mas aceitou.

Música alta, luzes piscando... Sam sabia que Dean era retardado, mas não a ponto de levá-lo a uma balada e revirou os olhos ao se deparar com o ambiente. – Qual é Dean, você não tem mais idade pra freqüentar esse tipo de lugar.

- Calado, Sam! – Revidou e se direcionou ao bar, apoiando-se no balcão. – Duas cervejas, por favor. – Pediu e o barman encarou-os desconfiado. – Hey ei ei ei, calma lá cara, somos irmãos! – Ele balançou a cabeça como se fingisse acreditar e Sam se aproximou, encostando-se de costas. – Como as pessoas podem nos confundir com um casal gay?

- As pessoas são maldosas, Dean. – Respondeu e esticou o braço para apanhar a própria cerveja. – Dois caras viajando sozinhos e você com essa pose de machão... eles imaginam coisas.

- Bando de loucos, isso sim. – Levou a garrafa aos lábios e deu um pequeno gole, olhando em volta. Ao fundo havia um palco, onde uma banda acabara de sair, dando espaço a uma mulher que se sentou em um banquinho com o violão no colo. – As coisas vão ficar mais calmas, pelo jeito. – Indicou-a com a cabeça para Sam que, por alguns instantes, ficou hipnotizado com a beleza dela.

Era uma mulher mediana, com seus um e sessenta e três de altura. Cabelos longos e bem vermelhos. Usava uma calça jeans e jaqueta de couro, a maquiagem impecável delineava seus olhos castanhos e dava cor à pele de pêssego que aparentava. Bonita.

- Hey, garanhão... Bela noite. – Brincou Dean, apanhando sua segunda cerveja.

- Boa noite a todos, eu sou Lindsay e tocarei nos intervalos da banda... – Apresentou-se e dedilhou o violão lentamente, ela tinha um sotaque bonito, texano, e então juntou alguns acordes, começando a tocar. – I hurt myself today to see if I still feel. I focus on the pain, the only thing that’s real.

- Johnny Cash! – Surpreendeu-se Sam, observando a moça.

Dean olhou para o lado onde duas garotas o observavam. – Eu tenho negócios a tratar, volto logo. – E saiu.

- What have I become? My sweetest friend, everyone I know goes alway in the end. – Ela reparou que Sam a olhava como se entorpecido e soltou um sorriso, sem deixar de cantar. As palavras entravam por seus ouvidos e pareciam lhe fazer algum sentido e sua expressão se tornou um pouco triste. – [...] Beneath the stains of time the feelings disappear. You are someone else, I am still right here.

Ele abaixou a cabeça e soltou um pesado suspiro, virando a cerveja nos lábios em seguida, como se tudo aquilo fosse uma mensagem direcionada para si.

- [...] If I could start again a million miles away, I would keep myself, I would find a way... – Ela desceu do palco, dando espaço a banda novamente, e foi na direção do Sam que ainda estava apoiado no balcão, sozinho. – Hey cara, você me parece triste... – Sussurrou fazendo sinal para que o barman lhe trouxesse uma cerveja. – Posso te pagar uma bebida? – Ofereceu, observando a garrafa já vazia nas mãos dele.

- Não, eu pago a sua. – Retrucou, pedindo outra garrafa. – Você canta muito bem!

- Verdade? Você me pareceu triste.

- Essa música é triste. – Levou a cerveja aos lábios, encarando a mulher.

- Johnny Cash é um gênio, meu ídolo. Ele tem o poder de emocionar as pessoas, não apenas com suas letras, mas também a sua voz. Um timbre inigualável e perfeito. – Soltou e sorriu,dando um grande gole em sua garrafa.

Sam ficou impressionado. – Quanto carinho... – Ela riu, ele riu e os dois passaram a se encarar por algum tempo.

- Você não é alguém que eu esteja acostumada a ver, na verdade nunca vi seu rostinho nessa multidão, não é daqui, não é mesmo?

- Não... Kansas...

- Entendo. E pela sua reação, posso supor que anda se machucando muito ultimamente?

- Não sei dizer exatamente...

Ela suspirou e olhou para os lados. – Cara se sorte aquele ali. – Apontou Dean com a cabeça. – Logo duas em uma única noite... Reparei que chegaram juntos, são amigos?

- Irmãos... – Respondeu e olhou, Dean se agarrava com duas num canto. – Com licença... – Saiu andando na direção do irmão, a moça foi atrás. – Dean! O que você pensa que está fazendo? Você aca...

- Você acabou de terminar um relacionamento e deveria sentir isso. – Disse antes que Sam pudesse terminar, imitando a voz do irmão. – Qual é Sammy?! Eu terminei um relacionamento, ninguém morreu, ninguém está em luto, eu tenho direito a aproveitar a vida às vezes e você deveria fazer isto também. – Apontou a mulher atrás dele. – Acho que deveria esquecer um pouco e curtir, nem que seja por uma noite. Vamos lá garotão. – Afastou-se um pouco das mulheres e puxou-o, cochichando. – Faz dois anos, não é? E ela é linda, aproveite!

Ele pareceu pensar um pouco e virou-se, olhando Lindsay que erguei as sobrancelhas pra ele, soltando um riso tímido. – Tem razão... – Murmurou pra si mesmo e voltou ao bar com a garota, enquanto Dean retomou suas atividades.

Mais algumas garrafas de cerveja foram abertas, algumas doses de tequila e, quando Sam deu por si, se é que deu mesmo, estavam nus na cama, seus braços apoiados no colchão ao lado da cabeça da ruiva que mordia os lábios com força e gemia enquanto suas unhas cravavam a pele de sua cintura.

Pressionou o corpo contra o dela e se virou, deixando-a por cima. Não sabia explicar o que acontecera consigo. Talvez a alta dose de álcool em seu sangue, mas não conseguia pensar em nada a não ser o quão bom estava aquilo. Apertou forte as mãos na cintura dela, deixando o local vermelho, e penetrou-a com intensidade, fundo, fazendo com que soltasse um gemido mais alto, agudo e ela cavalgou, prolongando aquela sensação, aumentando a pressão entre seus sexos.

Sam inclinou sua cabeça para trás, contra o travesseiro e abriu a boca soltando um gemido rouco, ela pressionou as mãos contra o tórax dele, apertando as unhas ali e deslizando-as para baixo, arranhando-o, ergueu o quadril, afastando-se um pouco e movimentou-o para cima e para baixo, várias vezes, desencaixando-o de si.

Não demorou muito para que Sam explodisse e ela sentisse o líquido quente e espesso escorrer por suas coxas. Ele a empurrou contra a cama novamente e ergueu uma de suas pernas, apoiando em seu ombro e segurando para que não tirasse dali. Mordeu a coxa e deslizou a língua pela macia pele branca, estocando. Ela gemeu baixo, parecido com um chorinho, e ele sentiu as contrações de suas carnes úmidas em volta de seu membro. Ofegando, curvou-se e selou o queixo dela, rolando para o lado. Abraçou-a por trás e pegou no sono.

***

- Dean! – A morena chorou e os grandes braços a envolveram fortemente, uma lágrima escorreu de seus olhos verdes.

- Mate-o, nem que pra isso seja preciso me matar junto, você entendeu? – Dean a afastou um pouco de seu corpo e encarou seus olhos.

- Eu não posso fazer isso Dean, eu te amo. – Ela mal conseguia falar.

Ele a beijou de forma intensa, como se nunca mais fosse fazer aquilo novamente. – Eu também te amo. – Sussurrou em seus lábios e saiu do Impala.

A rua estava deserta e o letreiro de um café piscava fraco em frente ao carro. A morena saiu pelo outro lado e parou ao lado de Dean. Um homem muito loiro, de olhos amarelos, sorria diabolicamente para eles, ao longe, encostado na porta do café. O local parecia banhado em sangue, cheio de corpos estirados ao chão, do lado de fora e de dentro.

O loiro sumiu de onde estava, aparecendo atrás da morena. Puxou-a pelos cabelos e tombou sua cabeça para o lado, deixando à vista a lateral do seu pescoço passando um dos dedos finos pela veia saltada e soltou um sorriso para Dean, que parecia enlouquecido de raiva.

- Deixe-a em paz, seu filho da puta, é a mim que você quer, ou eu...

- Ou o que, Dean? Irá se matar? Eu posso muito bem continuar onde estou. A escolha é sua. – Ele beijou o pescoço dela. Dean ficou fora de si e partiu pra cima dele, mas antes que pudesse encostar um dedo no loiro, foi atirado para trás, batendo as costas em um carro, e caiu no chão desacordado.

Sam abriu os olhos e deu de cara com o teto do quarto do motel. Respirava com dificuldade como se algo o estivesse sufocando. O que estava escrito no letreiro?

- Detroit. Café Detroit, é isso. – Ele olhou para o lado e se deparou com a cantora da noite anterior. É claro, ele havia bebido demais. Ele e Dean, que provavelmente estaria no quarto ao lado, com duas moças, pervertido. Levantou e sentiu a cabeça rodar. – Merda de ressaca. – A moça acordou e sorriu para ele, tentando puxá-lo de volta pra cama. – Olha, não quero ser rude... ahm... Qual é mesmo o seu nome?

- Lindsay.

- Certo, ahm, Lindsay, eu acho que é melhor você ir embora agora. Eu falo sério. – A moça se levantou chateada e pegou suas coisas, saindo do quarto.

Sam vestiu uma calça e abriu a porta do quarto ao lado. Dean estava esparramado e, como Sam já esperava, com duas moças. Pigarreou alto e nada de alguém acordar. Então foi ao lado do irmão e o chacoalhou.

- Porra, Dean, acorde. – Dean apenas colocou o travesseiro na cabeça, como se não quisesse ouvir. – Dean, é sério, eu tive uma visão!

- Se você me viu fazendo sexo com duas mulheres, pode esquecer, já aconteceu. E eu não matei ninguém, como pode ver. – Levantou a mão debaixo do travesseiro como se mostrasse que todos estavam vivos. – Agora dê licença, estou com uma ressaca dos diabos, minha cabeça dói, vou dormir mais um pouco.

- Dean, é sério. Acha que eu te acordaria se não fosse importante?

- Acho! Você é preocupado demais, relaxe um pouco, já disse... Onde esta a cantora? – As duas moças começaram a acordar e Dean tirou a cabeça debaixo do travesseiro. – Bom dia gatas. Querem brincar um pouco com o Sammy? Ele está meio tenso, precisam relaxá-lo.

- Não tenho tempo para sexo matinal Dean, mas tudo bem se quiser agir como criança. Fique a vontade. Mas quando você e sua namorada morrerem, não diga que não avisei. – Sam se afastou e foi em direção a porta.

- Opa, opa, peraí. Que história é essa de namorada? – Sentou-se rapidamente na cama e encarou o irmão que se virava para ele novamente. – Lisa e eu terminamos, esqueceu? E que história é essa de morrer? – Sam apontou com a cabeça as duas garotas nuas na cama. – Ok, Sammy, você venceu. – Virou-se para as meninas – Meus amores, eu preciso ter uma conversinha com o meu irmão mal humorado ali. Deixem seus telefones que eu ligo de volta. Obrigado pela maravilhosa noite.

Elas riram, pegaram uma caneta na bolsa e anotaram os telefones nas calcinhas, deixando em cima da cama. Vestiram o resto e saíram mandando beijinhos para eles. Dean sorriu todo galanteador e virou para Sam que já voltada para perto da cama.

– Cara, eu sou muito bom. – Disse e Sam revirou os olhos, sentando-se na beira da cama enquanto Dean vestia uma cueca. – Certo, desembucha cara.

Sam contou o sonho, detalhe por detalhe, como tudo acontecera, só não sabia descrever, exatamente, como era a mulher que ele deduzira ser Lisa.

- Wow, espere um pouco. Você disse que eu falei que amava alguém? – Sam concordou com a cabeça. – Essa é ótima. Sam, eu não admito nem para mim mesmo quando eu estou apaixonado. Acha que eu faria isso a Lisa? – Balançou a cabeça lentamente e suspirou. – De qualquer forma você nem sabe se eu morri mesmo ou se Lisa morreu. Ela está longe de Detroit e nem sonha em vir pra cá.
- Mas os dois estavam correndo perigo.

- Certo! Essa sua visão foi em Detroit? Fácil, não iremos para lá e eu nunca irei morrer e Lisa também não morrerá!

- Dean, mas e se há algum demônio possuindo alguém?Pessoas podem estar morrendo. Não podemos deixar isso passar.

- Ok, Sam, passaremos por Detroit e veremos se há algo de sobrenatural por lá. Está feliz agora? Posso voltar a dormir?

- Não, pegue suas coisas, você dorme no Impala, eu dirijo.

- Você e seu incrível tesão por demônios de olhos amarelos...




Detroit – Michigan


- Dean! Chegamos. – Sam estacionou o Impala em frente a um motel.

Dean piscou os olhos, despertando. – Porra, eu dormi toda a viagem? Quero dizer, quase cinco horas?

- É. Eu estou com fome. Vamos deixar nossas coisas, comprar algo para comer e sair atrás de pistas.

- Ainda não acredito que me trouxe pra morrer. Cara, você é um péssimo irmão sabia? – Sam revirou os olhos e Dean riu.

Pegaram um quarto e deixaram as mochilas lá, passaram em uma lanchonete próxima ao motel e almoçaram. Depois de satisfeitos, Sam deixou Dean em um bar, para ver se alguém sabia de algo anormal que poderia estar acontecendo na cidade, enquanto iria procurar o tal Detroit Café ou notícias sobre coisas que poderia parecer presságio demoníaco.

Dean entrou e foi direto ao balcão pedir a sua cerveja, já era quase oito da noite e o local estava começando a ficar movimentado. Ouviu uma risada e olhou para os lados, reparando, no fundo do bar, perto da mesa de sinuca, uma moça linda e incrivelmente gostosa. Vestia uma calça de couro e uma regata branca, deixando a mostra um pedaço do sutiã preto. Por cima tinha uma jaqueta, também de couro, preta. Mulheres ficam, extremamente, sexy de couro, e deixam Dean louco. Ele reparou que ela estava jogando com dois rapazes e tinha uma garrafa de cerveja na mão. Pelo visto estava ganhando.

Pegou sua cerveja e se aproximou, esboçando seu sorriso mais cafajeste. Ela o olhou, retribuindo, enquanto os dois caras saiam, chocados por terem perdido de uma mulher.

- Está a fim de perder, bonitão?

- Só jogo se as apostas forem altas. – Ele deu um longo gole na cerveja e olhou-a dos pés a cabeça.

Ela retirou a jaqueta e ele reparou que ela tinha alguma tatuagem no ombro, mas a alça da blusa tapava quase todo o desenho. Ela também usava um colar fino, prata, com uma pequena pedra brilhante no pingente, em seu decote... E que decote... E que corpo.

- Pode pedir o que quiser. Isso SE você ganhar. – Ela também deu um gole na cerveja dela e limpou os lábios com a língua, uma gota havia ficado lá.

- Quero te levar pra sair hoje, baby.

- Estou começando a achar que perder não é assim tão mal. – Ela sorriu e pegou o taco, passando giz na ponta.

- Não vai pedir nada, SE você ganhar?

- Se eu ganhar, coisa que irei com certeza, – Frisou. – eu escolho depois.

- Não vai, nem ao menos, me dizer o seu nome? – Ela riu.

- Você não me disse o seu. – Encostou-se na mesa.

- Dean.

- Ashley. – Ela tomou mais um gole da cerveja e o olhou de cima a baixo.




Aeroporto de Londres

- Aviões... – Brooke reclamou pela centésima vez, agora quando já embarcavam e tomavam seus lugares no avião.

- Quantas vezes terei de te explicar que não podemos aparatar de tão longe? – Bufou Becky.

- Há feitiços que permitem aparatar há longas distâncias.

- E correr o risco de se perder em outra dimensão ou ficar em pedaços. Não. – Explicou Draco, tomando seu lugar ao lado da namorada.

Brooke apenas revirou os olhos e olhou pela janela. Estava entediada desde que aceitara ir para os EUA com a irmã e o cunhado, a idéia não lhe parecia boa desde o começo e não seria diferente. Cabeçuda, sempre pisava firme quando tinha algo na cabeça e, neste momento, só se passava que não era boa idéia. Acomodou-se e olhou com desprezo quando a aeromoça se aproximou.

- Posso servi-los? – Perguntou gentilmente, Draco negou com a mão. – O vôo partirá em breve. Peço-lhes que coloquem os cintos.

- Falou com Victor? – Becky se virou para Draco, fingindo não ver a cara de descontente da irmã.

- Sim, nossas reservas já estão feitas. Assim que desembarcarmos em Detroit um taxi nos apanhará no aeroporto, teremos de nos portar como trouxas, ouviu B.? – Ela o olhou e deu de ombros voltando os olhos à janela. – Então nos levará ao hotel onde nossas coisas já estarão esperando.

***

- Aviões, táxis, hotéis, e agora isso? O que você espera Draco? Que eu lhe entregue a minha varinha e vire uma trouxa?

- É claro que não B., o celular é uma coisa importante para que possamos nos falar, sem levantar suspeitas.

- E como espera que eu decore o número dessa coisa?

- Eu já adicionei o meu número e o de Becky na agenda. Agora, por favor, seja boazinha. – Draco se aproximou de Brooke e colocou sua mão no rosto dela.

- Vocês me tratam como uma criança. Eu não sou uma, ok?

- É claro que você não é uma criança, se você fosse uma, eu não faria isso... – Puxou a cunhada pela cintura, deixando os dois quadris unidos, e levou seus lábios ao pescoço dela, sua língua deslizando lentamente pela pele macia. Ela suspirou tentando se controlar.

- Não sei... – Falava rouca.

Ele tirou a jaqueta de couro dela, ainda respirando em seu pescoço. Pegou-a pela cintura e sentou na cama, fazendo-a sentar em seu colo. Ela agarrou os cabelos loiros dele, levemente compridos, e puxou, sentindo o membro dele enrijecer na calça.

Ele, aos poucos, tirou a blusa dela e desceu seus lábios para o colo. Contornou com a língua a beira rendada do sutiã e, com uma mão, o desabotoou. A outra mão foi em direção a um seio e a boca no outro, ela gemia e se arrepiava. Ouviram um barulho, que significava que Becky havia saído do banho. Foi quando o celular de Draco tocou. Ele afastou B., pegou o aparelho e respirou fundo. Ela o olhava com uma expressão chocada e Becky com curiosidade.

- Alô? Sim... Agora? Tudo bem Victor, estamos indo. – Ele desligou o telefone e olhou para cada uma das gêmeas.

- Eu não acredito. Você me excita e vai embora assim?

- Desculpe B., Victor precisa falar comigo agora. Se quiserem vocês podem vir.

Becky assentiu com a cabeça e começou a se trocar. – Eu não vou mesmo. – Brooke pegou o sutiã e o colocou, o mesmo fez com a blusa e a jaqueta. – Aliás, eu vou dar uma volta. E não me digam o que eu posso ou não fazer, não sou criança. – Ela pegou a varinha e colocou na bota, o celular e o número dele anotado em um papel, colocou no bolso da jaqueta e saiu do hotel.

***

Andou sem muita pressa, observando tudo a sua volta, incluindo as pessoas. Parecia gostar do que via e riu sozinha.

- Os EUA não são tão ruins assim, afinal de contas... – Disse a si mesma e entrou em um bar, próximo ao hotel onde estavam hospedados. – Boa noite... – Disse ao barman e olhou em volta. Pediu uma cerveja e se aproximou da mesa de sinuca onde dois homens jogavam. – Posso me juntar a vocês? – Ofereceu-se, mordendo os lábios.

- Claro, gata, mas só jogamos na base da aposta.

- Com todo o prazer... – Deu a volta na mesa e apanhou um taco, passando giz na ponta. Um dos homens arrumou as bolas sobre a mesa e a encarou. – O que querem apostar?

- Se você perder, – Começou. – Terá de transar com nós dois, delicia.

Ela deu de ombros e riu. – E se eu ganhar?

- Se ganhar, tudo o que consumir hoje é por nossa conta!

- Fechado! Posso começar?

Andou em volta da mesa e curvou-se sobre ela, empinando a bunda na direção deles que olharam abobados e extasiados o belo traseiro que tinha, apertado na calça de couro preto.

- Bela bunda... – Um deles sussurrou e ela deu um sorrisinho safado por cima do ombro, mirando a bola branca.

Acertou-a bem no centro e ela foi em direção as bolas coloridas, do outro lado da mesa. Quatro delas entraram no buraco e, rapidamente, ela fez a conta. – Acho que isso me faz ficar com as pares, rapazes... – Ela sorriu maliciosa e os dois se entre olharam, não faziam idéia de que ela pudesse ser uma boa jogadora. Ela jogou novamente, dando um toquinho leve na bola, sem encaçapar nenhuma.
O mais alto deles, negro e barbado, apanhou seu taco e mirou na bola branca, acertando a bola ímpar do outro lado, que entrou no buraco.

- Nessa eu vou só olhar. – Disse o mais baixo, loiro, encostando-se na parede. Não queria ter a vergonha de perder para uma mulher, já que seria humilhação suficiente ter que pagar a aposta.

O jogo se seguiu assim, entre uma gargalhada e outra, um gole de cerveja e uma tacada. Quando três bolas ímpares ainda estavam sobre a mesa e apenas a bola oito restava para B, ela olhou em volta, um rapaz de cabelos loiro escuro entrava. – Hm, hoje tem festinha... – Sussurrou para si e virou para os rapazes. – Bom, meus amores, o jogo está ótimo, mas se encerra aqui. – Riu, percebendo que o rapaz a olhava agora. Debruçou-se sobre a mesa e acertou a bola branca que direcionou a preta exatamente para a caçapa do canto. – Fim de jogo... O que eu consumir não é? Vocês são muito gentis... – Piscou para eles.

- Está a fim de perder, bonitão? – Disse virando-se para o homem que já se aproximara.

- Só jogo se as apostas forem altas. – Ele deu um longo gole na cerveja dele e olhou-a dos pés a cabeça.

Ela retirou a jaqueta, seduzindo o loiro. Percebeu que ele a olhava captando todos os detalhes, como a sua tatuagem, escondida por baixo da alça da blusa, e o pingente que a mãe havia ganhado do pai, e com a morte de ambos, ficou para ela. Ele estava deslumbrado.

- Pode pedir o que quiser. Isso SE você ganhar. – Ela também deu um gole na cerveja e limpou os lábios com a língua, uma gota havia ficado lá.

- Quero te levar pra sair hoje, baby.

- Estou começando a achar que perder não é assim tão mal. E você é muito mais sutil do que aqueles dois cavalheiros ali. – Ela sorriu e pegou o taco de volta, passando giz na ponta.

- Não vai pedir nada, SE você ganhar?

- Se eu ganhar, coisa que irei com certeza, – Frisou. – eu escolho depois.

- Não vai, nem ao menos, me dizer o seu nome? – Ela riu.

- Você não me disse o seu. – Encostou-se na mesa.

- Dean.

- Ashley. – Ela tomou mais um gole da cerveja e o olhou de cima a baixo, mordiscando os lábios.

- Certo, Ashley, pronta pra perder? – Ele deu a volta e apanhou um taco para si, voltando em seguida. – Belos olhos... – Disse quando passava giz na ponta.

Ela arrumou as bolas e o encarou. – Obrigada, mas elogios não vão me fazer ter pena de você, garanhão. Quer começar?

Ele tirou a jaqueta também, levantou uma sobrancelha pra ela e sorriu, dando a primeira tacada, acertando duas bolas na caçapa. Duas pares.

- Nada mal.

- Você ainda não viu nada. – E ela não pode deixar de imaginar aqueles músculos que estavam marcados pela blusa. Aqueles braços a agarrando, apertando, os lábios dele nos dela. Mal tinha percebido que ele encaçapara mais uma e agora era a vez dela. – Ashley, é sua vez.

Ele era bom, mas ela era mais. Ela derrubou o mesmo número de bolas que ele, acertou mais uma, e deixou ele jogar. Ele também não errava nada. Deixou uma bola apenas e errou de propósito. Ela, por sua vez, derrubou todas as dela e encostou na mesa.

- Muito bem, você ganhou, o que quer de mim?

- Sabe de uma coisa, você é muito espertinho. Deixou-me ganhar de propósito, só pra eu ficar com pena e realizar o seu pedido.

- Então eu posso te levar pra sair hoje?

- Pode, e depois eu pegarei o meu prêmio.

Ela estava bem próxima dele, um olhando nos olhos do outro. Nem perceberam que um rapaz se aproximava um pouco afobado. Dean olhou para o lado e reconheceu o cara. Sam encontrou o olhar de B. e levantou um dedo na direção dela abrindo a boca, como se fosse falar algo. Tombou a cabeça de lado, fechou a boca e enrugou a testa. Virou para Dean e hesitou um pouco.

- A gente... A conhece? – Ele olhou de novo para ela que sorriu.

“Nada mau também”, pensou. “Embora o loiro seja muito mais bonito, este ai também faria um estrago.”

- Eu acabei de conhecê-la.

Sam sorriu para ela e puxou o irmão para o lado e sussurrou algo que B. não pode ouvir – Cara, eu conheço ela, não sei de onde. Mas não é a primeira vez que eu a vejo.

- Não sei não Sammy, ela tem um sotaque diferente. Provavelmente é inglesa. Nós nunca conhecemos uma inglesa.

- É! Você pode ter razão. Mas eu ainda acho que já a vi em algum lugar. Enfim, Dean, precisa vir comigo, eu achei algo que pode ser importante.

- Cara, você não pode ir sozinho? Eu ia levar ela pra sair, e depois...

- Tudo bem, poupe-me dos detalhes de sua vida sexual. Mas eu ainda acho que seria melhor você vir comigo. Dean, não faz nem vinte e quatro horas que você está sem sexo!

Dean voltou para B. e coçou a cabeça, meio constrangido. Embora ela estivesse irritada por ser desprezada pela segunda vez essa noite, ela foi razoável. – Escute, se você tem um problema, vá, tudo bem, a gente pode marcar para amanhã. Mas eu sou uma pessoa que cobro os meus prêmios, não vá me dar um bolo. – Ela pegou o papel do bolso com o número do telefone e entregou para Dean. – A propósito, eu menti. Meu nome não é Ashley, é Brooke. Mas pode me chamar de B. E se, por acaso, você terminar o que precisa fazer logo, pode me ligar hoje mesmo. Não tenho planos.


Dean sorriu e guardou o número dela, escrevendo o próprio e a entregou.

- Se você achar que seu prêmio está demorando, pode me ligar. – Saiu do bar, acompanhado por Sam que ainda a olhava com curiosidade, tentando lembrar onde já tinha visto aquela moça.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

1. Pilot

Lambeth – Londres

- Brooke... Acorde! BROOKE! – Dizia desesperada a mulher que vasculhava a gaveta do armário.

- O que foi Becky? – Respondeu, um tanto anestesiada pelo recém despertar, uma mulher extremamente igual à outra, deitada na cama. – Já conversamos sobre isso, hoje é sábado e eu posso dormir mais um pouco. – Ela rolou para o lado se espreguiçando e descobriu um homem, nu e incrivelmente quente, ao seu lado. – Oi delícia, como veio parar aqui?

- Brooke, cale essa boca e saia já do meu quarto com esse... trouxa! – Urrou a morena, um tanto raivosa. - E hoje não é sábado, mas sim domingo. Draco chegará para nos levar para almoçar, lembra? Você precisa maneirar na bebida. – Disse ao mesmo tempo em que tirou uma meia calça da gaveta.

- PORRA, hoje é domingo? – Fez cara de assustada e chutou os lençóis e depois voltou a sorrir maliciosamente – Acho que exageramos ontem a noite não é Twin? Sexo a três, no seu quarto, com um trouxa...

- Por favor, não estrague tudo com Draco. Suma com esse trouxa. Mate-o, prenda-o faça o que quiser. Troque-se e desça, este almoço é importante.

- Ok, estou indo Srta. Tudo-Tem-Que-Estar-Do-Meu-Jeito – Levantou, olhou para o homem que parecia confuso e rolou os olhos – Trouxas. – vestiu um roupão, pegou sua varinha, as roupas do homem e o conduziu para fora do quarto.

Levou-o escada abaixo, lançou-lhe um feitiço simples de memória, abriu a porta para ele ir, mas não imaginava que daria de cara com um lindo loiro de olhos acinzentados. Era musculoso, estava vestido socialmente, muito gostoso.

- Da próxima vez que Brooke trouxer um trouxa para esta casa, eu mato. – Disse enquanto o trouxa ia embora, completamente confuso. Olhou para o homem loiro parado a porta. – Oi gato, quer entrar? – Afastou mais a porta para que pudesse entrar. Ele, por sua vez, não tirava os olhos da abertura do roupão.

Assim que fechou a porta, ele se sentou no sofá e ela sentou por cima levando seus lábios aos dele e beijou-o com certa gula enquanto, rapidamente, suas mãos deslizaram pelo volume dos seios e abriram o roupão, deixando o ombro esquerdo nu.

Ele desceu os lábios pelo pescoço da morena e mordiscou levemente, fazendo-na soltar um gemido baixo, uma de suas mãos encaixou em forma de concha no seio esquerdo, a mostra, enquanto a outra apertava sua coxa. Ela levou a mão ao membro semi ereto nas calças dele e apertou cuidadosa e gostosamente, fazendo-o abafar um gemido rouco em seu pescoço. Deixou a cabeça tombar para trás, enquanto ele levava seus beijos ao seu colo, as mãos ágeis dele logo estavam subindo pelas coxas, caçando seu sexo úmido e nu por baixo do roupão.

Penetrou-a com um de seus compridos dedos e começou um entra e sai suave, indo fundo e saindo. Sua língua deslizando pela pele macia do pescoço.

- Brooke, eu acho que falei pra você ir se trocar. Estamos atrasados.

A voz de Becky soou do alto da escada. Draco parou onde estava, afastou a moça e olhou seu ombro esquerdo, então puxou o outro ombro do roupão, deixando o ombro direito a mostra. Este havia uma pequena tatuagem de um pentagrama circulado com fogo. Fez uma cara de “eu já devia saber”. Becky desceu as escadas e Brooke se levantou do colo do cunhado, encarando a irmã gêmea que usava um vestido curto, tomara que caia azul safira.

- Só estava esquentando ele pra você! – Disse atrevida e deu uma piscadela para a irmã, que revirou os olhos e se sentou ao lado do namorado. – Não vou demorar. Como se isso importasse. – Subiu as escadas.

- Sério que pensou que fosse eu?

- No começo sim, ela ameaçou matar o próximo trouxa, esse é o típico jeito Rebecca de ser. Mas ela não tentou perguntar algo sobre o plano. Eu deveria ter desconfiado, mas acabei me entretendo com outra coisa...

- Tudo bem Draco, como se nunca tivéssemos feito isso antes.

A vida das gêmeas idênticas, Crawford, sempre fora assim. A única aparência física que as diferenciavam era uma pequena marca de nascença, na qual Brooke carregava no ombro direito e Rebecca no esquerdo. Mas, aos quinze anos, cobriram-na com tatuagens. No tempo escolar freqüentaram Hogwarts, onde pertenceram a casa de Slytherin, um ano mais novas que Draco Malfoy. Desde o 3º ano, Becky e Draco eram namorados, mas as duas se divertiam por serem iguais e uma assumia o lugar da outra. Draco soube disso e nem se importou, é claro, ter duas mulheres é o sonho de todo homem.

Elas sempre foram bonitas, com cabelos negros e sedosos, ondulados e compridos até o meio das costas. Donas de intensos olhos azuis, os quais herdaram de Gerard Montgomery, seu pai biológico. Sempre em destaque com a pele branquinha, tipicamente européia, e os lábios carnudos e rosados. Também tinham belos corpos, capazes de dar inveja a qualquer menina e deixar louco qualquer rapaz.

Suas personalidades eram parecidas em essência, egoísmo, prepotência, arrogância. Não tinham um pingo de respeito por qualquer um, eram maldosas e adoravam humilhar alguém. Sempre foram populares, desde a época da escola. Hoje em dia todo o mundo bruxo conhecia as gêmeas Crawford que, junto com Draco Malfoy, construíram um império da luxúria e ganância.

Rebecca era a mais fria e calculista, séria e metodista. Tudo tinha de estar planejado e se seguir conforme o plano, tudo precisava ser milimetricamente calculado e bem elaborado, para que nada falhasse. Brooke era mais “Curtir a Vida”, sedutora e extrovertida. Vivia se metendo em roubada. Era muito boa em Planos B, improvisar, sair de alguma enrascada. Não gostava muito de pensar, mas quando necessário, tinha idéias geniais. Álcool e sexo era imprescindível na vida das duas.

Aos 15 anos, nas férias escolares, haviam tido um desentendimento com a mãe e, como tudo na vida delas se resumia em vingança, decidiram descontar. Encontraram um diário que escondia muitos segredos, mais do que elas podiam, sequer, imaginar. Por conta dessas informações, a mãe e o padrasto morreram.

Elas nunca contaram a ninguém o que havia nesse diário, nem contaram sobre a existência dele. Até um mês atrás, cinco anos após a queda de Voldemort, quando Draco o viu e perguntou o que era e Rebecca explicou ao namorado. Desde então ele e Becky andavam muito estranhos e Brooke percebeu, mas pensou que deveria ser alguma crise após tantos anos de namoro ou que finalmente iriam se casar e queriam surpresa, mas esta possibilidade era quase nula. Era a primeira coisa que Becky não contara a irmã, mas era melhor assim, B. era meio cabeça de vento, sem contar que falava demais quando estava bêbada. Se ela soltasse qualquer coisa e alguém acreditasse, seria o fim de tudo, de todo o ‘plano’. É claro que, futuramente, quando tudo já estivesse encaminhado, a irmã saberia, mas não agora.

- Mas e o plano Draco? – Ela o encarou um tanto séria.

Ele respirou fundo, apoiou a mão sobre a coxa da namorada. - Vamos ter essa reunião com ele hoje, mas duvido que possa ser quem a precisamos. Nós estamos falando de magia negra muito antiga, pactos inacabados. Ainda acho que deveríamos contar a B., é ela quem sempre lia o diário do seu pai, quem se aproximou mais desse mundo e...

- Eu já falei Draco, Brooke é muito imatura para este tipo de plano, ela não poderia ajudar mais do que eu e, além disso, poderia acabar com tudo com duas doses duplas de uísque! Sem contar que existe muito mais além daquele diário, eu ainda não lhe mostrei. Eu e B. encontramos muito mais na biblioteca da nossa antiga casa, tudo que a minha mãe fez da última vez, como quebrar os selos, anotações do meu pai, enfim. Trouxemos tudo para nossa biblioteca, é onde B. se enfia sempre que quer fugir da realidade.

- Ainda assim, ele não parece ser forte para ser um recipiente.

- Não custa checarmos.

- Checarmos o que? – Brooke descia as escadas usando um lindo vestido preto, frente única, com um generoso decote nas costas e incrivelmente curto. Era inacreditável a habilidade que as gêmeas tinham de ficar sexy sem serem vulgares.

- Nada que valha a pena você queimar seus neurônios, aliás, você está linda B. – Disse Draco piscando para ela.

- Obrigada cunhadinho, adoro a sua sinceridade. – Ela sorriu maliciosa e já havia se esquecido do que eles iriam checar, nada como um elogio para sugar qualquer coisa daquela mente, Draco e Becky sabiam muito bem.

***

O almoço estava uma droga. Draco e Becky não paravam de cochichar enquanto o convidado quase não falava. Ele até era um pouco charmoso, mas tinha um ar arrogante. Não que B. não gostasse, ela sempre se divertia tirando a pose desses caras, fazendo-os implorar por mais na cama. Mas ela estava incrivelmente estressada com a situação e ambiente que não dava em nada, não chegava a lugar algum. Becky tinha dito que era uma reunião de negócios, muito importante para Draco, mas o convidado quase não falava e a irmã e o cunhado perguntavam a ele coisas totalmente sem sentido como: quem eram seus pais, se tinha filhos, onde nasceu e etc. Nada fazia sentido ali e ela já estava bem entediada quando os dois se levantaram da mesa, levantou-se também, pensando que iriam embora.

- Nós temos que conversar um pouco B., fique fazendo companhia para o Sr. Van Der Bilt. – Disse Becky e se afastou, enquanto Brooke se sentava novamente com sua maior cara de desprezo.

- Draco, este homem não pode, de jeito nenhum, ser o recipiente. Eu li a mente dele, nada de anormal, ou nada que ele lembre. Todos os fatos indicavam que ele havia sobrevivido a uma possessão, mas, a menos que a mente dele foi apagada, não há nenhum registro útil, nós não podemos arriscar todo o plano por um...

- Eu sei Becky, acalme-se, por favor. Eu havia dito que achava que ele não seria o nosso cara. Creio que devemos continuar procurando, mas algo me diz que nós já achamos e não percebemos. De qualquer forma, precisa me mostrar o resto das coisas na tua casa.

Becky soltou um pesado suspiro e concordou com a cabeça. Não haviam reparado, mas estavam parados muito próximos da porta do banheiro masculino. Por conta da tensão e cochichos, estavam um bem próximo do outro.

- Ok, eu mostrarei assim que chegarmos em casa. – Draco estava fitando os seios de Becky, apertados pelo tomara que caia. Ela não prestou atenção e se virou para voltar a mesa, mas Draco a segurou e a puxou de volta, pelo braço, empurrando-na contra a porta, que se abriu, fazendo-os entrar no banheiro masculino.

- Brooke pode esperar mais um pouco. – E sorriu malicioso para ela que retribuiu com toda a malícia.

Quando Becky e Draco retornaram a mesa encontraram apenas o Sr. Van Der Bilt. Ele disse que Brooke apenas tinha levantado e ido embora, gritando algo como “Eles me trouxeram nessa merda cheia de trouxa pra que? Esperar eles se comerem no banheiro? Vão todos para o inferno!”.

Pediram desculpas ao convidado, pagaram a conta e, ao saírem do restaurante, alteraram a memória dele para que não se lembrasse desse almoço.

Ao chegar em casa, foram direto para a biblioteca, onde encontraram Brooke adormecida em cima de alguns livros e o diário de seu pai. Draco a levou para seu quarto e a colocou na cama, logo em seguida voltou.

- Quando mamãe contou ao papai que estava grávida, ela já estava casada com James e ele pensava que éramos filhas dele, mas ela mandou uma carta a ele que veio nos ver, assim que nascemos. Tiraram essa foto, – Mostrou a contra-capa do diário do pai, onde havia uma foto de um homem e uma mulher, cada um segurando um bebê lindo, com cabelos negros e os olhos azuis. – depois disso, mamãe pediu ao papai para nunca mais a procurar. Ele não se conformava, mas seguiu o pedido dela. Até que, quando tínhamos quatro ou cinco anos de idade, mamãe mandou outra carta pedindo a que ele viesse nos ver. Ele veio e pensando que ela queria que ele vivesse com ela, que pudesse ter algum direito como pai, trouxe tudo o que tinha nessa vida. Seu diário, outros livros sobre coisas paranormais e sobrenaturais... E como você sabe, ele foi morto, e ela ficou com tudo o que ele trouxe. E depois que mamãe e James morreram, nós buscamos o que havia lá e trouxemos pra nossa biblioteca, inclusive o diário de minha mãe.

Draco pegou o livro com capa azul turquesa, que era o diário de Kathy, e o folheou.

- Mas então temos praticamente tudo aqui.

- Não tudo, mas o bastante. Draco, - Ela colocou a mão no ombro dele. – se você perceber, o maior foco de ocorrências sobrenaturais aconteceu na América, talvez...

- ...talvez devêssemos ir pra lá. É, - Ele ficou pensativo por alguns instantes, mas parecia convencido. - faz sentido. Precisamos falar com B., ela não vai ficar aqui sozinha, não é?

- Não, ela vai com a gente, definitivamente.

- Já que vamos pra lá, iremos direto para Detroit. Victor, lembra-se dele? Jura que Lúcifer possuiu alguém lá. E alguém que foi forte o suficiente para suportar Lúcifer, pode ser o nosso homem.

- Espere. – Becky pegou o diário do pai e começou a folheá-lo, achou uma foto de um homem segurando um garotinho de olhos muito verde e cabelo louro escuro. – Aqui, veja, este homem, caçou junto com meu pai algumas vezes. Talvez possa nos ajudar indiretamente, claro, não iria querer nos ajudar com nosso objetivo, mas podemos tirar algo dele, só precisamos achá-lo.

- Ótimo, está decidido, nos mudaremos para Detroit o mais rápido possível.




Creston – Iowa

Eram quase cinco da manhã quando o Impala 67 estacionou em frente a um mercadinho de conveniência e, de dentro dele, um castanho alto desceu, batendo a porta as suas costas.

- Sam, não se esqueça da minha torta! – O segundo homem, no volante, fez questão de relembrar o irmão. Colocou seus óculos escuros, apesar da escuridão, aumentou um pouco o volume do toca fitas e deitou a cabeça sobre o encosto do banco, relaxando depois de tensas horas de estrada.

Sam, por sua vez, apenas fez um aceno com a cabeça e entrou no estabelecimento. Apanhou algumas garrafas de água, alguns pacotes de batata e quatro cervejas, sem esquecer, claro, a torta do irmão. Direcionou-se ao caixa e deu uma nota de vinte ao homem que o analisava com atenção. Era um homem baixinho e barrigudo, calvo e grisalho. Tinha os olhos castanhos meio fundos e uma curiosidade que Sam não conseguia descobrir de onde viria.

- Então? – Perguntou.

Deu o troco rapidamente. Sam fez um sinal de agradecimento, ensacolou suas compras e saiu do local, voltando ao Impala que o esperava.

- Dean?! – Chamou e abriu a porta, entrando novamente. Ajeitou-se no banco de couro e cutucou o homem de cabelos louro escuro que havia pegado no sono.

Saltou com o cutucão e seus óculos foram parar no banco traseiro. Seus grandes e assustados olhos verdes encararam o irmão. – Ah, é você... trouxe a minha... – Mas antes que pudesse terminar a frase, Sam estendeu a sacola para ele e apanhou uma cerveja na outra.

- Há algum motivo especial para termos parado aqui?

- Na verdade não, eu só estou cansado e com fome, então levarei nossas bundas gordas para o motel mais próximo assim que acabar com a minha deliciosa torta. Está servido? – E enfiou na boca uma colher de plástico, cheia de torta.

- Acho que precisamos de descanso depois de tantas horas acordados.

- Acho que eu deveria falar isso, você passou o caminho inteiro babando ao meu lado.

Logo que terminou, Dean deu a partida no carro novamente e direcionou-se para o motel mais próximo, onde estacionou e desceram. Passaram rapidamente pela recepção e subiram rumo quarto, com duas camas de casal.

O mais baixo dos dois arrancou a jaqueta de couro e as calças, e pulou, de bruços, na cama, esparramando-se folgadamente sobre o colchão. O outro arrumou sua jaqueta sobre a poltrona e encaminhou-se para o banheiro, onde tomou um demorado banho antes de cair na cama.

O radio relógio da cabeceira acusava quase 3 horas da tarde quando o celular de Dean tocou, no bolso da calça jogada no chão. Ele se virou e cobriu a cabeça com o travesseiro, mas Sam se curvou e pegou o aparelho, atendendo-o.

- Alô? – Disse com a voz de sono.

- Dean? – Uma voz feminina soou ao outro lado da linha, mas Sam não a reconheceu.

- Ele está dormindo, quem fala?

- Sam, deixe-me falar com ele, é Lisa! – Os olhos do castanho se arregalaram e ele, rapidamente, saltou da cama, acordando o irmão.

- Qual é, Sam? Não é o apocalipse... de novo...

- Dean, é Lisa! – Ele arregalou os olhos e se sentou rapidamente, tentando recobrar a consciência.

Estendeu a mão para apanhar o celular. – Lisa?!

- Dean, quando voltará para casa? Estamos preocupados. Já faz tanto tempo desde a última vez que veio nos ver.

- Lisa, eu não posso ainda, Sam e eu estamos resolvendo alguns assuntos.

- Você me prometeu que largaria dessa vida. – Choramingou a voz cansada da mulher.

- Já conversamos sobre isso... – Disse, tentando convencê-la e encarou Sam que o observava com atenção.

- Faz dois anos que Sam voltou, Dean, e desde então você nunca parou em casa mais do que dois dias, eu quero o meu namorado de volta, pode falar isso a Dean Winchester?

Ele soltou um pesado suspiro. – Como está o garoto?

- Ele está bem, mas estou falando de mim, de nós, Dean!

- Lisa... – Ele parou e soltou um segundo suspiro, mordendo os lábios. – Eu não queria que fosse assim, mas você sabe como é a minha vida, o meu irmão... É uma tradição, salvar vidas, caçar coisas, o negócio da família e não podemos, simplesmente, largar fingir que está tudo perfeito e que o mundo é bom.

- Dean, estou falando de constituir uma família.

- Eu quero que meus filhos, se algum dia eu os tiver, vivam em um lugar melhor, longe de todo esse mundo, por isso preciso fazer dele um mundo melhor.

Sam e Dean se encaram por alguns instantes e então, o castanho, percebeu onde o irmão iria chegar.

- Dean, não!

- O Dean Winchester que você ama não existe, nem nunca existiu, eu não nasci para isso. Não existe mais nós, Lisa. – Soltou, apertando polegar e indicador das temporas. – Infelizmente eu tenho coisas a fazer... O tempo que passamos juntos foi ótimo, mas não passou de contos de fadas, não posso continuar nos iludindo sabendo o que está me esperando pelo mundo, sabendo que posso estar trazendo problemas e prejudicando vocês.

- Dean... – Ela soltou um suspiro fraco seguido de um soluço e então nada mais foi ouvido além de “tu tu tu”.

- Não acredito que fez isso!

- Sam, por favor, agora não. – Colocou o telefone sobre o criado mudo e voltou a deitar.

- Você é completamente idiota, Dean, a sua chance de fazer diferente, ser feliz, e então jogou tudo para o alto novamente. – Dizia incrédulo.

- É o fardo Winchester, Sam... encare nossa realidade. – Abraçou o travesseiro e se calou.

Sam se deitou de barriga para cima, encarando o teto, os braços atrás da cabeça e ficou pensando. Tinha mesmo de ser assim? Depois de tanto sofrimento e situações difíceis, ainda precisavam continuar vivendo desta forma? Abdicando de sua felicidade em prol do bem da humanidade e pessoas que nunca viram na vida? A única resposta que se passava em sua mente era: “Merecemos paz”, mas Dean não pensava assim, não ainda. Apesar de estar cansado, e isso ser expresso em sua face, ele ainda continua forte e convicto da decisão de continuar a jornada que seus pais, seus avós, iniciaram. O que o incomodava, já que, desde muito novo, Sam quis sair dessa vida. Embora os anos tivessem feito com que mudasse de idéia, hoje, o pensamento de poder ser um rapaz normal, assolava sua mente novamente, fugir de tudo aquilo, fingir não saber de nada, esquecer que, um dia, já viu tanto horror e desgraça.

Quando Dean acordou, as seis horas da tarde, um bilhete estava sob o celular.

“Saí para arejar a cabeça, volto mais tarde.”

Coçou os olhos e jogou as pernas para fora da cama, levantando-se. Direcionou-se para o banheiro, deixando o que ainda tinha de roupa cair pelo caminho. Abriu a torneira e entrou embaixo do chuveiro. Todos os pelinhos de seu corpo se eriçaram quando a água gelada entrou em contato com sua pele, seus olhos se apertaram, tentando suportar a temperatura e ela, aos poucos, começou a mornar. Apanhou o sabonete e o deslizou pelo corpo, formando uma espuma branca sobre a pele, ensaboou-se e enxaguou, pegando o xampu para lavar os cabelos. Massageou o couro cabeludo por alguns instantes e o enxaguou também. Fechou o chuveiro e puxou a toalha, enrolando-a na cintura e saiu do banheiro, molhando todo o chão.

Em sua cabeça ainda martelavam suas ultimas palavras a Lisa, antes dela desligar o telefone. Tinha certeza que nunca mais a veria, já que sabia que o que dissera magoara tão profundamente quanto se tivesse dado um murro em seu filho, mas tinha de ser assim, era um meio de proteger a ela e o garoto. Dois anos se passaram desde o retorno de Sam da prisão de Lúcifer, era verdade, e desde então não parara em casa mais de um final de semana, como ela mesmo fizera questão de lembrar. Ele havia prometido a ela, a si mesmo, que largaria essa vida de caçador e se dedicaria à família que pensavam em constituir, mas o peso da responsabilidade, o saber demais, puxou-o de volta para a vida que seu pai ensinou a ter. Não podia, simplesmente, se fingir de normal, ele era mais que isso.

Sentou-se na cama, e as duas mãos se firmaram em seu rosto. Logo a porta do quarto se abriu e ele viu um Sam aflito.

- O que houve, Cara?

- Acho que não estamos aqui por acaso, como sempre, Dean. Na cidade está havendo uma série de assassinatos, todos ligados a quem esteve nessa mansão mal assombrada. Eu estava lendo o jornal e fui averiguar o caso, não consegui muita coisa, mas pessoas estão morrendo.

- Você procurou sinais de presságio? Alguma coisa que ligue os ocorridos a demônios? – Levantou-se e tirou a toalha, vestindo a cueca e a jeans surrada em seguida.

- Não, nenhum presságio. Acho que deve ser algum fantasma...

- Bom, então vamos descobrir quem é, onde está enterrado, salgar esse maldito e fazê-lo se tornar cinzas. - Ele sorriu, por um instante, afastando todos os pensamentos relacionados a ex.

- Não acho que seja tão fácil assim, Dean. – Ele levantou um caderno onde muitos nomes estavam escritos. – Eu estive na biblioteca, procurando por todos os que já moraram ali, e não são poucos. Mas a questão é que há uns 10 anos a casa não é habitada, e desde então se criou a lenda de que era mal-assombrada. Mas os assassinatos só começaram a ocorrer agora. Para ser mais preciso, a primeira morte ocorreu há três dias e hoje foram encontrados mais dois corpos.

- Ok! Vamos estudar a cidade... – Sorriu e vestiu sua jaqueta, apanhou as chaves do Impala e saiu. Sam foi atrás.

Os dois seguiram para um bar, onde provavelmente tirariam alguma informação de alguém. Entraram e logo se aproximaram do balcão, onde Dean, costumeiramente, já pediu sua cerveja.

- Cidade pequena, as notícias correm rápido Sammy. – Deu uma cotovelada no irmão. Sam apenas rolou os olhos e o seguiu. Dean levou o gargalo aos lábios. – Uau, não fazem mais garçonetes como você lá no Kansas. – Sorriu para a mulher atrás do balcão, que acabara de servi-los e retribuiu o sorriso.

- Mais alguma coisa? – Ela era realmente bonita. Tinha os longos cabelos louro-acinzentado, presos em um rabo de cavalo e os olhos castanhos claro. Dean abriu a boca para responder, provavelmente com outra cantada, quando Sam o interrompeu.

- Não muito obrigado. – Deu um rápido sorriso falso e olhou para o irmão com incredulidade. Como ele podia fazer isso, sendo que acabou de terminar um relacionamento?

- Ah, não venha me dar lições de moral Sammy. A vida continua e foi você mesmo quem me tirou da minha “vidinha perfeita”. Com licença, vou recolher pistas. – Pegou sua cerveja e se afastou, olhou para Sam, que estava fitando o traseiro da garçonete agora. Ela estava atendendo alguma outra mesa. – Hey, Sam, eu a vi primeiro garanhão. – Sorriu e foi em direção a ela. Sam por sua vez virou de volta para o balcão e tentou prestar atenção na conversa ao lado.

- ...coitado do Sr. Johnson. Tudo bem que os meninos não eram assim tão bons, viviam se metendo em encrenca na escola, mas perder dois filhos de uma só vez! – Dizia um sujeito de terno com uma cerveja nas mãos.

- Sim, acho que não desejo isso nem para a pior pessoa do mundo. Digo isso como pai. Mas onde é que os irmãos foram encontrados?

- Não sei nem como repetir isso, mas o psicopata deve ser muito doente. Entrou na casa dos garotos e decepou a cabeça de um. O outro deve ter tentado fugir, o corpo estava jogado no jardim, dilacerado.

- Meu Deus, que horror. Espero que prendam logo esse assassino. É a terceira morte em três dias e... – Os dois pareciam muito assustados e Sam prestava atenção em cada palavra dita quando Dean chegou atrás dele e o assustou.

- Sabe Sammy, você anda muito viadinho ultimamente. Está ficando medroso, não pega uma mulher há, sei lá, dois anos? Precisamos fazer algo quanto a isso urgentemente.

- Cale a boca Dean. Descobriu alguma coisa?

- Sim... – Dean tirou um papel do bolso e balançou na frente do irmão. – Consegui o telefone da Kathy, a linda garçonete. Há!

- Dean... eu não acredito que...

- Relaxe, enfezadinho do oceano. Eu descobri pistas também. Venha, vamos visitar Elliot Thompson.

- Quem...?

- Eu te explico no carro, vamos.

***

- Espere, deixa-me ver se entendi. Elliot esteve na mansão com Jennifer Berry no dia em que ela foi assassinada pelo nosso fantasma? E há outra garota desaparecida? Amanda Murtough? Você acha que essa Amanda pode ter sido morta pelo fantasma dentro da mansão?

- Exatamente. Por isso viemos aqui ver o Elliot. Saber o porquê dele não ter morrido também. Mas não contávamos que ele não estivesse em casa. Portanto eu vou ficar aqui e esperar e você pode ir para o motel descansar, talvez.

- Por que isso não soa bem, Dean? – disse Sam desconfiado.

- Relaxe, cara. É sério, precisa parar de se preocupar a toa.

Sam ainda relutou um pouco, mas deu uma chance ao irmão, a final, o que ele poderia fazer? Sem contar que não conseguiu dormir após o telefonema de Lisa e estava exausto. Dean o deixou no motel e voltou com o carro para a casa de Elliot logo depois de passar em uma lanchonete de fast food e comprar dois gigantescos hambúrgueres, acompanhados de batata grande e refrigerante.

A casa ainda estava escura e deserta. Ligou o toca fitas e deu uma olhada na rua. Nada anormal, pensou. Fechou os olhos e deixou sua mente vagar. Começou a comer enquanto observava cada extremidade da rua, na esperança de que sua vítima aparecesse, mas nada aconteceu. Tempo depois, já empanturrado e acompanhado pelo som de Nothing Else Matters, do Metallica, ele fechou seus olhos e encostou a cabeça no encosto do banco, lembrando-se de Lisa. Ficou um pouco surpreso ao perceber que não se sentia triste por ter terminado. Foi muito bom enquanto durou, mas Dean percebeu que não a amava o quanto pensava, estava lidando com aquilo muito fácil. Lembrou-se, então, de Kathy, a garçonete, e de como ela estava sexy em sua blusa azul colada e o jeans claro marcando suas curvas, tinha uma bela bunda.

Sem perceber, Dean já estava fantasiando com a loira, sua mão deslizou pelo zíper da calça e a desabotoou, colocando seu membro, levemente rijo, para fora. Seus olhos se apertaram com a mesma intensidade que seus dedos em volta do pênis e um sobe e desce, ora lento, ora rápido, foi iniciado. Ele abriu os olhos, de repente, percebendo o que estava fazendo, uma idéia surgiu em sua maliciosa mente e ele tornou a guardar o membro na calça.

- Quer saber? Que se dane, vejo você amanhã, Elliot. – E dirigiu de volta para o bar.

Chegou a tempo de ver Kathy saindo pela porta dos fundos, provavelmente já acabara seu turno. Dean pegou o celular e discou seu número.

- Alô?

- Oi gata, olhe para trás, quer uma carona? – Havia descido do carro e estava encostado no capô quando Kathy olhou para trás e sorriu.

- Claro, por que não? – desligou o telefone e foi até Dean. Ele abriu a porta do carona para ela e entrou do outro lado.

- Pra onde? – Dean sorriu malicioso.

- Esquerda, ande duas e vire à direita. – Ele obedeceu. – Então, Dean, ainda não disse o que veio fazer aqui.

- Eu sou um viajante, estou sem rumo. Estava cansado e paramos para passar a noite, eu e meu irmão. Vamos ficar mais alguns dias até estarmos descansados o suficiente.

- Esquerda de novo... Ali, aquele prédio logo à frente. – Dean parou o carro na frente do prédio indicado e olhou-a. – Quer subir um pouco? Tomar alguma coisa talvez. – Ela sorriu.

- Claro, por que não? – Disse ele, imitando-a. Subiu as escadas e encontrou um apartamento simples, mas bem arrumado. Ela abriu a geladeira e tirou duas garrafas de cerveja e entregou uma a ele. – Tá aí, uma mulher apreciadora de cerveja. Adorei.

- Tive muita influência do meu pai, ele me criou sozinho e... – Ela deu um suspiro triste.

- Tudo bem, não precisamos falar sobre isso. Podemos... simplesmente... – Aproximou-se dela, colocando sua mão em seu rosto, contornando seus lábios com o polegar, então a puxou para si, beijando-a com vontade e ela, correspondeu.

***

Dean abriu a porta do quarto e entrou de mansinho para não acordar o irmão. Já eram nove horas da manhã. Logo ele acordaria. Mas é claro que ele tropeçou em alguma coisa jogada no chão, ou não seria Dean. Sam acordou e olhou para o irmão, sem acreditar no que estava vendo.

- Dean, por que, raios, está chegando a essa hora? Vai me dizer que Elliot só chegou agora?

- Elliot, merda. Ah então, eu adormeci e nem vi quando ele chegou, resolvi voltar para cá, tomar um banho e voltarmos lá ver se ele já chegou e...

- AH NÃO. Não vai me dizer que você estava com a garçonete. – Dean deu um longo suspiro e encarou o irmão.

- Quer saber, eu estava. Sam, você não manda em mim.

- DEAN, COMO PODE SER TÃO INSENSÍVEL? VOCÊ TERMINOU UM RELACIONAMENTO POR TELEFONE E NO MESMO DIA JÁ TRANSOU COM OUTRA...

- SAM, CHEGA. EU SOU ADULTO E FAÇO O QUE BEM ENTENDER E O PROBLEMA É MEU, SÓ MEU! Se isso tem que pesar na consciência de alguém, é na minha. E se quer saber, eu não amava mais a Lisa. – Soltou sem pensar e encarou Sam que se calou. Sentou-se na cama ainda o olhando, e desamarrou os cadarços do sapato.

- E quanto ao Elliot?

- Eu não sei, achei que era melhor falar com ele hoje de dia. Seria menos intimidante.

- Certo. Espero que nosso fantasma psicopata não tenha matado mais ninguém essa noite.

***

- Claire, acho que ouvi algum barulho. Tem alguém abrindo a porta, é sério.

- Deixe de ser medrosa, Jenna, você acredita mesmo no que o idiota do Elliot fala? Não há nenhum fantasma de ninguém aqui matando todos que entraram nessa casa.

- Mesmo assim, há um assassino na cidade e se ele estiver escondido aqui? Vamos embora Claire, por favor.

- Uhuul, fantasmaa! Cadê você? – Claire zombava da cara de medo da amiga. Jenna olhou atrás de Claire e viu um rosto flutuando, os olhos esbugalhados com um sorriso maníaco, gritou com todo o ar de seus pulmões e Claire riu, virando para onde Jenna estava vidrada e parou imediatamente, agora assustada também. – A-Amanda? – Jenna ainda gritava e chorava, Claire estava se afastando. Amanda, o fantasma, sorriu ainda mais diabólica e, agora, todo o seu corpo pálido e quase transparente, era visível.

- Olá Claire, veio procurar um fantasma? Tsc, tsc. Você deveria acreditar mais na palavra do idiota do Elliot. Crianças idiotas que gostam de assustar os outros, pregar peças. Elliot conviverá com o medo o resto da vida, ah sim, eu o assombrarei todas as noites. Sabe Claire, o que acontece com vocês, idiotas que perturbam outras pessoas? Vocês morrem! – Amanda deu um olhar macabro para Claire e a segurou pelo pescoço quando a porta abriu com força e dois homens entraram com armas e um deles atirou no fantasma que sumiu.

- Você está bem? – Sam chegou perto de Jenna que ainda soluçava, Claire havia desmaiado nos braços de Dean.

- Sim, eu acho... Eu quero ir para casa, por favor.

Sam apertou a garota nos braços e andou até a porta por onde tinham acabado de entrar, mas esta parecia emperrada. Socou-a algumas vezes, mas não se moveu um milímetro. – Sinto muito, provavelmente ela nos trancou aqui dentro depois de termos entrado, será impossível sair daqui.

- Sammy, vou procurar o tal alçapão que Elliot falou. Cuide das meninas. – Colocou a menina no chão e saiu ainda resmungando. – Malditos adolescentes, sempre envolvidos nessas histórias de casas mal assombradas e... – Os passos dele na escada abafaram as lamúrias.

- Sam? É esse o seu nome, não é? O que aconteceu aqui? Por que Amanda quis matar a Claire? – Ela soluçava e estava aos prantos. – Ela sempre foi tão quieta, tão na dela, nem respondia quando a maltratavam na escola.

- Já ouviu falar sobre adolescentes que sofrem bulling? Levam uma arma na escola e matam todos os estudantes e depois se matam? No caso dela, ela morreu primeiro e agora iria matar todos os estudantes que já zombaram dela.

- Co-como assim? Então ela... morreu...?

- Há quatro dias, ela, Elliot e Jennifer vieram aqui, como você e Claire. Jennifer resolveu pregar uma peça e a jogou em um alçapão e a trancou lá. Achou que seria divertido, Elliot nada fez para impedir. Os dois foram embora e no outro dia a noite vieram “resgatá-la”, mas assim que entraram, ela estava parada no começo da escada. Eles perguntaram como ela saiu de lá. Ela respondeu que não havia saído, mas tinha encontrado uma espécie de faca lá dentro e tinha se matado. E quando acordou novamente, podia fazer o que quisesse. Então ela amarrou Elliot, e torturou Jennifer até a morte. Depois, soltou Elliot e disse que ele nunca mais se veria livre dela. Desde então ele não consegue dormir e ela o assombra todas as noites. Todos os adolescentes que vêm aqui são mortos por ela e depois levados para casa, como se o assassinato tivesse ocorrido lá.

- E como você sabe de tudo isso?

- Eu e meu irmão ficamos intrigados com esse caso e fomos falar com Elliot, ele não queria nos contar, disse que ninguém acreditaria, mas acabou falando. Então viemos o mais rápido que pudemos.

Claire estava acordando agora quando um barulho foi ouvido do andar de cima.

- SAM, SAMMY, EU PRECISO DE AJUDA AQUI, CARA! – Os berros de Dean ecoaram pela velha casa.

Sam deus uma arma de sal para cada uma. – Fiquem aqui. Isso é carregado com sal, não mata o fantasma, mas o deixa mais lento e o faz sumir por alguns instantes. Conseguem se defender sozinhas?

- Acho que sim.

- Ótimo! JÁ ESTOU INDO DEAN!

- RÁPIDO!

Sam pegou outra arma e subiu correndo, viu Amanda em cima do irmão e ele tentando se livrar dela, com a camisa rasgada e alguns arranhões sangrando. Mal pensou e atirou nela, o que não fez nenhuma diferença. Ela olhou para Sam e grunhiu, voando, agora, para cima dele, jogando-o na parede e o enforcando, tinha os olhos vorazes. Sam se debatia enquanto Dean, fraco, alcançava a arma de sal para atirar no fantasma. Caiu sentado quando ela desapareceu e apalpou o pescoço, ainda respirando com dificuldade.

- Ali Sam, me ajude a abrir aquele alçapão.

Sam levantou, ainda cambaleando, pegou o revolver e atirou no trinco, umas três vezes até acertar. Dean abriu a portinha rapidamente e enxergou o cadáver de Amanda, ainda inteiro e com um terrível mau cheiro.

- Oh cara, ela fede. – Fez um gesto indicando ânsia, mas pegou o sal e jogou pelo cadáver. – Toma essa, filha da puta.

Amanda reapareceu gritando, emitindo um grunhido muito estranho e derrubou Dean, também fazendo um corte feio em seu braço, mas logo após, foi derrubada com outro tiro de sal. Sam olhou para o irmão e ergueu os ombros, sem saber de onde viera o tiro, olhou para o outro lado e Claire estava parada na porta do quarto com a espingarda em mãos, tremendo um pouco. Dean jogou álcool no corpo o mais rápido que pôde e riscou o fósforo, jogando-o dentro do alçapão Ao mesmo tempo o fantasma Amanda gritava e ia desaparecendo conforme seu corpo queimava, como se também estivesse em chamas.

Respiravam com dificuldade, por conta dos ferimentos, e sentiam suas gargantas queimarem. Claire ainda tremia com Jenna a sua cola, choramingando. – Sabe, acho que nunca mais vou querer ir a alguma casa mal assombrada. Sério. – Disse entregando a arma a Sam.

- Você leva jeito garota, já pensou em se tornar caçadora? – Dean deu uma risada enquanto ela fazia uma cara de que não tinha entendido absolutamente nada. – Ok, é claro que não, você nem sabia da existência do mundo sobrenatural.

- Quer dizer que existem muito mais além de fantasmas? – Claire estava um pouco assustada e animada ao mesmo tempo, e essa atitude fez Dean arregalar os olhos.

- Ah sim, tudo que você puder imaginar.

- Chega Dean, já estragamos nossa vida com essa coisa de salvar pessoas, caçar coisas. Não desejamos isso a mais ninguém.

- Mas se agora eu sei que essas coisas existem e matam pessoas, como eu posso conseguir dormir em paz, sabendo que alguém pode estar morrendo sem saber o porquê, e eu sei? – Ela estava indignada com o desprezo de Sam. Dean sorriu para ela.

- É o que eu sempre digo. Vamos Sam, precisamos nos limpar.

Levaram as meninas para suas casas, Jenna em estado de choque, Claire sem parar de perguntar o caminho inteiro, e voltaram para o motel, Dean tomou banho primeiro e depois enfaixou o peito que ainda sangrava um pouco, Sam fez a mesma coisa.

Dean se jogou só de cueca na cama e virou para Sam que ainda enfaixava o braço. – Agora vamos dormir por umas 20 horas e amanhã, pé na estrada!