Draco e Becky se entreolharam. – Sabe... às vezes eu acho que você agarra mais a minha irmã do que a mim. – Sentou-se no colo de Draco, exatamente como a gêmea estava, estava com ciúmes sim, o que era raro entre as irmãs.
- Você sabe que não, Becky. Eu amo você. – Ele a beijou com intensidade, pressionou seus lábios nos dela e afastou devagar. – Agora temos negócios a tratar, depois eu te recompenso. – Deu uma leve mordida no lábio inferior da namorada que se afastou e foi se vestir. – Parece que Victor tem uma informação importante pra gente. Acho que ele conseguiu algo.
- Eu, realmente, espero que sim, Draco. Essa coisa de ficar procurando um recipiente ideal já está me dando nos nervos. É como procurar uma agulha no palheiro.
Eles saíram do hotel e foram para alguma cafeteria por perto. Sentaram-se e, logo em seguida, Victor chegou.
Ele era um homem bonito, elegante e charmoso. Seus cabelos eram pretos e ondulados, um pouco comprido, e seus olhos bem verdes. Era alto, forte e musculoso. Becky acabara de se lembrar dele nos tempos de Hogwarts, com Draco. Por um tempo foi namorado de Brooke, mas as personalidades dos dois não dariam certo nunca. B. era divertida, conquistadora e nunca foi de um homem só. Victor era charmoso, mas era muito ciumento e possessivo. Será que a irmã lembrava-se dele?
- Ora, ora. Rebecca Crawford, quanto tempo. Você continua maravilhosa e deslumbrante. – Ele pegou a mão de Rebecca e levou aos lábios. Um perfeito cavalheiro, como Brooke pode deixá-lo? – Draco. É um prazer revê-lo. – Apertou a mão do loiro.
- Certo Victor, vamos ao que interessa.
- Muito bem. Vocês pediram para que eu procurasse sobre o cara da foto, certo? A boa notícia é que ele é realmente John Winchester, o mesmo que é citado no diário algumas outras vezes. A má notícia é que ele morreu já fazem alguns anos. Mas, eu já descobri que ele tem dois filhos que seguem o mesmo ramo. Em mais alguns dias e eu já terei o nome e o paradeiro deles.
- Espero que eles possam ser úteis.
- Acalme-se, Becky, a melhor parte eu ainda não contei. Tem um demônio, que conseguiu chegar até Ele, e nos trouxe uma mensagem. Parece que ele vai nos dar detalhes de como prosseguir e quem é a pessoa que Ele quer, para o recipiente. – Becky se agitou na cadeira.
- Um, um demônio? Tipo, de verdade mesmo? – ela olhou um pouco assustada para Draco.
- Tudo bem, não se preocupem, ele pediu para eu ir sozinho encontrá-lo. Aliás, assim que sair daqui irei me encontrar com ele.
- Uhm, ok. Mantenha-nos informados Victor.
- Com toda certeza, Draco.
O castanho, que observava de longe, se virou para o balcão, pegou o celular, encontrou o contato “Dean”, olhou um tempo como se decidisse o que fazer e guardou o telefone no bolso, sem discar. Levantou, indo em direção ao banheiro, passando por eles que cochichavam, apenas conseguiu ouvir algo como “Você esteve com ele? Como chegou lá? Como voltou?”.
Algum tempo depois saiu novamente e esbarrou no demônio, que se servia de café. Como Previa, ele acabou derrubando o líquido quente no próprio colo.
- Hey cara, desculpe, eu não tive a intenção. – Disse com um exagerado tom de sinceridade. O demônio se levantou irritado, queria quebrar o pescoço dele, mas precisava manter a aparência agora. – Venha aqui, eu dou um jeito nisso. – Sam o puxou para o banheiro, Victor continuou sentado.
Ao entrar, Sam não pensou duas vezes e deu um soco na cara do demônio que cambaleou e foi pra cima dele. – Winchester! – Ele arfou, talvez reconhecendo o rapaz um pouco tarde demais. Sam o puxou pelos cabelos e o enfiou dentro do box, onde um terço estava dentro do vaso sanitária. Ele havia benzido a água. Afundou a cabeça do demônio na água e ele berrou, queimando-se com a água.
- Maldito Winchester! – Urrou, mas antes que pudesse continuar, Sam o afundou novamente.
- Não sei o que está fazendo aqui, mas vou te mandar de volta pro seu mundo. – Empurrou o demônio para trás, ele vacilou e caiu sentado, levantando-se em seguida, os olhos completamente negros encarava o rosto de Sam com fúria e então ele avançou, mas algo o impediu de conseguir chegar até o castanho. – Mas não antes sem me falar o que está fazendo aqui. – Sam apontou com a cabeça para o teto, onde desenhara uma armadilha.
- Negócios, Winchester. – Ele respondeu revirando os olhos. – Tenho negócios a tratar.
- E que negócios são esses? – Sam pegou um balde de dentro de um dos boxes e encheu de água, apanhou o terço dentro do vaso sanitário e jogou dentro, manteve a mão submersa e começou a recitar algumas palavras em larim.
- Acha que isso vai me fazer abrir a boca, Winchester? Nem em sonho...
- Veremos... – Sam jogou um pouco de água no demônio e ele berrou, chamando a atenção de Victor que saiu de sua mesa e entrou no banheiro.
- É uma armadilha, saia daqui! - Sam se virou para a porta, dando de cara com o rapaz, jogou um pouco de água nele, mas nada aconteceu, afinal Victor não estava possuído.
- Isso é um possível pacto? – Perguntou, fincando o cenho. Victor empunhou a varinha e apontou para Sam. – E que pedaço de madeira gozado é esse?
- Desfaça esta merda! – Disse o demônio apontando para o selo sobre sua cabeça. Victor desviou a varinha para o símbolo e girou-a um pouco, mas Sam avançou sobre ele, fazendo lampejo desviar do alvo.
Victor caiu, batendo a cabeça no chão com o forte impacto sofrido e Sam deu três socos em sua face, fazendo-o desmaiar.
- Vamos conversar... – Voltou-se ao demônio. – Eu não sabia que havia uma encruzilhada aqui perto e nem que pessoas tinham madeiras especiais para desfazer armadilhas para demônios, essa deve ser uma macumba muito boa, devo confessar. – O demônio riu, parecendo divertido. – Mas qual o real sentido de você estar aqui?
- Depois de tudo o que causaram com Lúcifer, acho que vocês dois deveriam deixar os demônios em paz e cuidar dos seus fantasminhas, porque não estamos para amizades, Winchester e fique ciente de que não vão estragar nossos planos novamente, tudo vai correr como planejado.
- E qual é o plano.
- Não posso falar, ordens.
- Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica... Ergo...
- NÃO! – Ele berrou. – ACORDE SEU FILHO DE UMA PUTA DESGRAÇADA. – Falava com Victor.
- Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt... Ab insidis diaboli, libera nos, domine. – Victor pareceu vacilar e acordar, meio tonto. O demônio se contorcia conforme Sam dizia as palavras, sabia que não conseguiria arrancar nada do demônio e não estava equipado para tentar torturá-lo, tampouco poderia deixá-lo livre por aí. – Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos. Ut inimicos sanctae ecclesiae humiliare digneris, to rogamus audi...
- PRESTE ATENÇÃO! – Urrou novamente e Victor o olhou.
- Dominicos sanctae ecclesiae, terogamus audi nos, terribilis deus do sanctuario suo deus israhel. Lpse tribuite virtutem et fortitudinem plebi suae...
Ele continuava se contorcendo. – Diga a eles que ele quer o Winchester, agora suma!
- benedictus deus, gloria patri...
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – A fumaça preta saiu da boca do homem, voltando direto para o lugar de onde nunca deveria ter saído.
Sam se voltou para Victor, que encarava tudo com certo receio. – Winchester... – Ele repetiu e apertou os dedos em volta da varinha, desaparecendo dali. Olhou em volta, sem saber o que tinha acontecido com o homem, como se estivesse procurando por ele em algum lugar dali. Saiu do banheiro meio desnorteado, deixou uma nota de dez no balcão e saiu.
Entrou no Impala, ainda muito confuso, sem saber o que o demônio quis dizer com “ele quer o Winchester...” ou como o homem havia desaparecido, completamente do nada, diante de seus olhos. Encarou por alguns minutos o painel do carro, ele não era um demônio, como seria possível? Tirou o celular do bolso e discou para o irmão, ligou o carro e dirigiu para o bar onde o deixou.
A porta se abriu indicando que algum cliente acabara de entrar. Ele automaticamente olhou para ver quem era e de imediato reconheceu aqueles olhos azuis que ele sonhara essa noite. A mulher tomou ciência de sua presença e sorriu, indo em sua direção. Ele retribuiu o sorriso. Hoje ela usava um vestido cinza, bandage, curto, o que evidenciava suas curvas e deixa a mostra suas belas pernas. Ela o cumprimentou.
- Dean.
- Ash... Quero dizer, Brooke. – Ela riu. – Desculpe por ontem, era algo mesmo importante. Hm, sobre trabalho, entende.
- Trabalho? Em que exatamente você trabalha? – Arqueou a sobrancelha, parecendo curiosa.
- Bom, é um antigo negócio de família.
- Entendo. Mas não pense que vai se livrar assim tão fácil, Dean. Ainda me deve uma saída.
- Ow, gata, eu sempre cumpro com a minha palavra. – Os dois riram e se encararam. – Então, o que faz aqui agora?
- A mesma coisa que você está fazendo, comprando um café. E, por falar nisso, é a nossa vez. Eu quero um capuccino com creme, por favor.
Dean fez o pedido dele e foram se sentar em uma das mesinhas do lado de fora. O dia não estava ensolarado, mas sim meio nublado.
- Não, você sabe, eu quis dizer, na América. – B. deu um sorriso meio constrangido.
- Bom, pra ser sincera, nem eu sei direito. É uma longa história.
- Eu adoraria ouvir. – Ele sorriu levando o copo aos lábios e ela soltou um riso fungado.
- Minha irmã tem um namorado, desde a época de Hog... High School. Eis que ontem mesmo ele chegou em casa dizendo que precisava viajar para a América por uns tempos, resolver alguns negócios da empresa dele, que, inclusive, eu e minha irmã somos sócias, mas na verdade é ele quem faz tudo. É claro que a Rebecca viria correndo com ele. Digo, eu não a culpo, ela o ama. Então eu tive de vir junto.
- Parece-me que você não queria vir. Então por que veio?
- Ela, Rebecca, é a minha única família, entende? Não tenho pais, tios, avós, nem nada. – Foi a vez dela de levar o copo aos lábios, dando uma leve pausa na conversa. – Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos e minha mãe e meu padrasto quando eu tinha quinze. Desde então somos só minha irmã, meu cunhado e eu. Embora sejamos muito diferentes, eu a amo demais. Costumávamos contar tudo uma pra outra, mas recentemente ela anda muito estranha. Sabe, eu fico preocupada. Quando minha mãe morreu, foi muito difícil para ela, passou por uma fase terrível, mas depois de um tempo ela melhorou e agora parece que está voltando a ter essa recaída. Ela e Draco vivem de segredos, sempre estressada e tensa. E pra piorar, começaram a me tratar como uma criança, uma irresponsável e inconseqüente, como se eu não entendesse absolutamente nada, ou como se tivesse voltado a ter cinco anos de idade, alguém que precise de proteção. Quero dizer, eu nunca estive nem aí pra nada. Gosto de curtir a minha vida, mas tenho meus limites. – Dean ouvia tudo com atenção. – Talvez eu seja egoísta, mas não sei o que será de mim, sozinha, quando eles se casarem. – Tomou outro gole do capuccino e encarou Dean, que estava com um leve risinho no rosto agora. – Desculpe-me, eu realmente não sou de me abrir como acabo de fazer, eu não falo isso para as pessoas que eu mal conheço, sem ofensas. – Ele não agüentou e soltou um riso, ela ficou um pouco ofendida, mas disfarçou. – O que foi?
- Nada, não se ofenda. É só que... Eu reconheço essa história.
- Como assim?
- A minha. Também não tenho pais, tios, avós, etc. Tenho apenas um irmão mais novo, que você conheceu ontem no bar. Quando minha mãe morreu, eu também tinha cinco anos, mas Sammy era só um bebê de seis meses. Mas meu pai não casou de novo e, digamos que, ele se dedicou ainda mais ao trabalho e por conta disso viajava sempre. Eu ficava responsável pelo meu irmão e pela casa. Ele morreu há uns seis ou sete anos, desde então meu irmão também é a única coisa que me resta. Eu sei como é, como se sente.
Os dois tomaram goles do café e se encararam por alguns segundos, sentindo compaixão um pelo outro, afinal, ambos perderam os pais e se sentiam, de alguma forma, responsáveis pelo irmão. Afinal quando a mãe de B. morreu, Becky ficou revoltada, apesar da briga que tiveram ela era muito chegada à mãe. Ficou absolutamente possessa com o padrasto, tanto que cometeu o pior erro de sua vida dela e o pior, ou talvez nem tanto assim, é que não se arrependia. E agora B. estava muito preocupada com o rumo que as coisas vinham tomando.
B. soltou um riso e olhou para o seu copo. – O que? – Dean perguntou também sorrindo.
- Nada, é só... incomum. Quero dizer, nos conhecemos ontem, eu estava louca por você, e agora estou aqui, falando da minha vida pessoal. – Ele deu um sorriso torto e malicioso.
- Estava é? – Ela retribuiu o sorriso.
- É, eu estava e pelo jeito que você não ofereceu nenhuma resistência, só significa que eu também te deixei louco.
- Com certeza baby. – Ele piscou e virou a cabeça, rencostando-se na cadeira. Ela mal o conhecia e já adorava aquele jeitinho. Foi quando o celular dele tocou novamente. – Sammy, eu já estou indo ok? – Desligou, olhando pra ela com uma cara de “me desculpe mais uma vez”.
- Está tudo bem, eu também tenho coisas a fazer hoje. Sabe como é... Ver a casa nova, comprar móveis, decorar, levar as coisas do hotel. Enfim, coisas de menininha. – Ela se levantou, apanhando a bolsa.
- Pra onde vai? Quer uma carona?
- Se não for te incomodar...
Dean a levou até a casa recém adquirida. Ela agradeceu e saiu do carro.
- Eu te ligo hoje a noite. – Ele disse, voltando a dar a partida no carro. Ela concordou e acenou para ele.
Brooke deu uma volta na casa por fora, tudo parecia estar em ordem. Logo o corretor chegou e mostrou-lhe por dentro. Era enorme, ela não teria muito trabalho a fazer, em questão de cores e papéis de parede os antigos donos tiveram bom gosto. Depois de fechar o negócio definitivamente, o corretor foi embora e ela estava sozinha na sala. Tirou algumas fotos dos cômodos com o celular (que aprendera a usar depois de tanto mexer), respirou fundo e aparatou.
Tinha sido um dia bem cansativo e ela havia feito um ótimo trabalho. Pelo menos os móveis essenciais tinham sido devidamente escolhidos e comprados. Enquanto esteve nas lojas, as paredes fora pintadas e no dia seguinte era só colocar tudo no seu devido lugar e correr atrás dos detalhes. Becky não aparecera nem telefonara, embora ela não demonstrasse, ficou muito chateada e se sentiu extremamente sozinha, como se ninguém precisasse dela. Logo ficou irritada, se eles pensavam que iriam tocá-la para fora de suas vidas, estavam tremendamente enganados. Decidiu que voltaria para o hotel, tomar um banho e dar uma saída pra espairecer.
Trancou a casa e aparatou em uma rua escura e deserta, próxima ao hotel. Começou a caminhar em direção a rua movimentada duas quadras à frente, quando percebeu um movimento as suas costas. Automaticamente se virou para trás e surpreendeu-se a não ver nada. Voltou a andar apressadamente em direção à luz. Era só o que faltava ser assaltada agora. Outro movimento e ela voltou a se virar, segurando a varinha com força dentro do casaco.
- Quem está ai? – Gritou para as sombras. Algo se mexeu à sua esquerda e ela se virou. Havia apenas o contorno de um homem que ainda estava na escuridão e não dava pra reconhecer nada, via apenas sua silhueta.
- Rebecca?
- Quem é você?
- Um amigo do Victor. Você é a Rebecca? – B. analisou aquele contorno por alguns instantes, ainda tensa.
- Não! Sou irmã dela. – Concluiu por fim. – O que você quer com ela?
O homem se aproximou, ficando na luz. Tinha os cabelos pretos na altura dos ombros e os olhos cor de mel. Vestia uma jaqueta de couro velha e uma camisa preta que marcava seu abdômen definido. Tinha um sorriso maroto e algo diferente no olhar. B. não relaxou.
- Relaxe, Brooke, não irei te fazer mal. Eu só quero falar com Victor. Pensei que talvez você pudesse avisá-lo. – Ele continuou se aproximando e, de repente, estavam tão próximos que ela conseguia sentir a respiração dele em seu rosto. Ele a olhou de cima a baixo e deu outro sorriso maldoso, então a beijou, quase que violentamente, como se quisesse engoli-la.
Ela quase perdeu o equilíbrio se não fosse pelos braços fortes que a envolveram. Ele segurava firme em sua cintura enquanto o outro braço subia em direção a sua nuca, entrelaçando os dedos nos cabelos dela. B. percebeu que ele tinha um cheiro forte, diferente, só não estava se lembrando de com o que se parecia.
Afastou-se lentamente dela, um sorriso ainda malicioso nos lábios, a luz bateu em seus olhos e eles, de repente, ficaram totalmente negros. Ela deu um passo para trás no impulso, percebendo o que estava acontecendo.
- Enxofre, então é isso... Que nojo! – Puxou a varinha de dentro do casaco e apontou pra ele, o outro braço correu aos lábios como se pudesse limpar o beijo que acabara de receber.
- Não seja estúpida garota. Você não vai querer fazer isso. – Ele tombou a cabeça pro lado, divertindo-se com o espanto dela.
Ela ameaçou algum movimento com a varinha e ele estendeu sua mão para frente, lançando-a contra a parede da ruela. Brooke sentiu uma dor aguda na cabeça e algo escorrendo por seus cabelos. “Ótimo, estou sangrando, maravilha!” pensou ironicamente. Sua varinha tinha caído de sua mão com o baque. Ela levantou e se sentiu um pouco tonta, tentando procurar cegamente a varinha.
- Eu não vou te machucar, já disse. Apenas não tente nenhuma outra gracinha, é claro. Agora vá, chame o Victor e o traga até aqui. – Ele cruzou os braços. Ela pegou a varinha enquanto a outra se segurava para não cair. Levantou e colocou a mão da varinha na cabeça, onde havia feito um profundo corte que sangrava. Ela virou, apontando a varinha para ele e muito mais rápido do que ele pudesse esperar de alguém cambaleando, ela o estuporou. O demônio caiu inconsciente por alguns instantes, apenas o tempo dela conjurar a “Armadilha do Diabo” no chão, bem abaixo dele.
- Ora, ora. Será que eu sou assim tão imbecil ou tão garotinha frágil e indefesa que faria tudo que um demônio filho da puta como você dissesse? Surpreso? Deprimido? Quer colinho de mamãe?
Ele gargalhou. – Pois é, confesso que não esperava isso. Muito inteligente Brooke, puxou mesmo o seu pai.
- O que o meu pai tem a ver com isso? Aliás, como sabe meu nome? Como sabe quem eu sou?
- Muitas perguntas, Brooke. Primeiro, seu pai não tem nada a ver com isso, embora aquele desgraçado tenha tido o que merecia, morreu nas mãos da única pessoa que o amou de verdade. Irônico não é? A questão é que eu o conheci, e você se parece muito com ele, nada de garotinha frágil e indefesa. Segundo e terceiro que eu sei de tudo sobre você e sua “família”. Na verdade, atualmente, todos os demônios sabem. Se prepare doçura, eu não sou nem um pingo no oceano do que você terá de enfrentar daqui pra frente. É bom que você escolha o lado certo, chame o Victor e me solte. – Brooke estava muito confusa com tudo aquilo, não estava entendendo nada do que ele queria dizer, mas não estava nenhum pouco disposta a atender seu pedido.
- Desculpe, doçura, mas como deve saber, não sou uma fada madrinha, sou uma bruxa e bruxas não atendem a desejos, principalmente de demônios imundos e gostosos, como você. – Passara muito tempo lendo e estudando o diário de seu pai e aquelas palavras, decididamente, estavam gravadas em sua cabeça . – Mande um Alô a minha mãe e meu padrasto no inferno. – Mordeu os lábios como se hesitasse em começar, não era algo do qual realmente se orgulhava em saber. – Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas... – conforme ela falava, o demônio começava a tremer e se contorcer - Da locum Christo, in quo nihil invenisti de operibus tuis...
Ele tremia descontroladamente, gritando coisas como: “Ele retornará...” e “você e aqueles caçadores imundos irão sofrer...”, até que ele deu um último grito, soltando pela boca uma “fumaça” preta. Correu até o círculo desenhado no chão. O homem que servia como recipiente do demônio estava desmaiado no chão, ela tentou acordá-lo, mas ele não respondia. O telefone dela tocou.
- Alô? – Percebeu agora que sua voz estava vacilante. Era o segundo exorcismo que praticara, sendo que prometeu para si mesma, depois do primeiro, que largaria essa história de caçar, mas essas coisas simplesmente apareciam em sua vida.
- B., você está bem? Parece um pouco assustada.
- Não, eu... é que... – Respirou profundamente e levou a mão a cabeça, sentia uma dor aguda no local do corte. – eu fui assaltada, o bandido me empurrou e bati a cabeça, estou um pouco tonta. Dean, se não for pedir demais, você pode me buscar? Estou aqui perto do Hilton, não quero chegar ao hotel agora e preocupar minha irmã. Acho que preciso de alguns pontos na cabeça antes de qualquer coisa. – Ela esperou a resposta dele e desligou o telefone.
Tirou o casaco e o fez sumir com mágica. Encostou o corpo do moço na parede, logo ele acordaria. Aparatou mais perto da rua movimentada. Escondeu a varinha na liga que usava na perna direita, onde normalmente colocava quando estava de vestido, levava o celular na mão mesmo. Assim que ninguém estava olhando ela começou a andar em direção ao local combinado.
Era mentira, não estava com medo de preocupar a irmã, na realidade Brooke estava preocupada com o tipo de merda que irmã estava metida, seria fácil pra ela voltar pra casa e enfeitiçar o corte, colocar alguma poção ou coisa do gênero, mas precisava refrescar a cabeça e Dean havia ligado em um excelente momento. O demônio era “amigo” de Victor e perguntou por Rebecca. Becky e Draco estavam muito estranhos ultimamente e tendo muitas reuniões com Victor, talvez estes fatos estivessem ligados, mas ainda não sabia explicar de que maneira. Algo estava muito estranho por ali. Talvez Victor tivesse feito algum tipo de pacto e Rebecca estava tentando ajudar, mas ainda assim nada fazia sentido e, o pior, por que ninguém contara nada a ela?
Um carro estacionou na frente de B. e a tirou de seus pensamentos. Era Dean, com cara de super preocupação. Ele saiu do carro e deu a volta, encarando a morena nos olhos. – Você está bem? – Abriu a porta do Impala pra ela. Ela entrou, ele deu a volta e tomou o volante novamente.
- Você parece incrivelmente mal. Quero dizer, seu cabelo está uma caca e você parece muito pálida, te fizeram algum mal?
- Nada além de ter a cabeça rachada ao meio e perdido sei lá quantos litros de sangue.
- Esqueceu de ter caído no lixo né, você está fedendo B. – Dean sorriu, aquele sorriso de criança-fazendo-arte, ele parecia mais aliviado.
- HaHa, engraçadinho. Sim, eu caí no lixo. Foi em uma dessas ruelas que você vê em filme. A idiota resolveu pegar um atalho, ao invés de simplesmente seguir o caminho habitual. Lembre de nunca, NUNCA mais pegar atalhos escuros em toda a minha vida. – Ela olhou para ele, que a encarava achando certa graça na situação. Ela abaixou o olhar e riu. Sorte que mentia bem. – Desculpe, não quero descontar minha frustração em você. Eu só pedi para que você viesse porque a Rebecca ia ficar louca. Ia querer dar a queixa imediatamente, fazer um barraco na delegacia, no hospital e não foi nada grtave, ele só levou o casaco e a minha bolsa.
- Ah! E a pergunta que não quer calar, como você ficou com o celular?
- Ah, sim. Estava no bolso do casado e deve ter caído quando eu o tirei e ele não percebeu.
- Você se lembra dele? Saberia descrevê-lo?
- Não. Estava escuro, pouca luz, não dava pra ver direito. Ele tinha algo na cabeça eu acho.
- Ok, está bem, não force muito agora. Você bateu a cabeça com força, talvez mais tarde se lembre melhor. – Ele estacionou no hospital e a ajudou. Ela estava mesmo um pouco tonta e sentia como se fosse vomitar. Mas tinha certeza de que era pelo fato de ter exorcizado alguém, não por ter batido com a cabeça.
Dean ficou junto dela enquanto limpavam o ferimento e davam alguns pontos. O telefone dele tocou, era o Sam.
Assim que terminaram, Dean insistia em levá-la a delegacia.
- Dar queixa de que, Dean? Um sobretudo Dolce & Gabbana e uma bolsa Victor Hugo?
- E seus documentos? Dinheiro, sei lá?
- É só tirar segunda via, quanto ao dinheiro, já era mesmo. E os cartões, é só ligar no banco e cancelar. – Ainda bem que ela conseguia ler a mente dele, pois não estava entendendo nada do que estava falando.
Ele, por fim, acabou concordando e a deixou na porta do hotel. Estacionou o carro perto de onde a havia pegado e se dirigiu a ruela que Sam havia mencionado. Sam estava ali, andando em círculos, impaciente, até que avistou Dean.
- Que demora cara! Você precisa ver o que encontrei aqui.